Novos óculos...
Quando vi aquele miúdo pela primeira vez senti adrelalina!
O meu primeiro caso na área de psicologia forense.
Um rapaz de 15 anos, cabelo oxigenado, espetado com gel, piercing na língua, calças largas, correntes ao pescoço... Sentou-se como quem não queria nada... Não fez contacto visual em nenhum momento... Estava a ser acusado de roubo, e parecia ter um certo orgulho nisso..
Estava super ansiosa pela entrevista que a minha orientadora de estágio ia fazer mesmo à minha frente.. Entender comportamentos extremos sempre foi uma paixão... Eu ia finalmente começar a entender... E entendi!
Abandonado pelos pais, que não tiveram condições (ou não quiseram, não se sabe) para ficar com ele, foi para uma casa de acolhimento aos 9 anos. Desde essa idade que fuma... Foi diagnosticado com depressão, toma anti-depressivos... A melhor amiga dele foi diagnosticada com esquizofrenia... Ela também vive na mesma casa de acolhimento.
O meu entusiasmo de primeiro dia foi-se esfumando. A minha tutora no final da entrevista perguntou-me porque é que estava branca.. Se precisava de água, ou de descansar... A minha perspectiva mudou, foi como mudar de óculos. O pensamento de que ia colocar esses miúdos todos no lugar, foi substituído por um sentimento protetor por todos eles. Até um pouco desequilibrado por vezes...
E agora? Agora sinto-me obrigada a lutar por casos perdidos. Que na verdade, acredito eu, não existem..