APEGO AO PROBLEMA
Quando estava em Madrid a realizar o Mestrado, assisti a uma série de julgamentos. Um desses dias fomos ao tribunal que lidava com casos de Violência de Doméstica.
O homem acusado, estava a ser trazido algemado, e por um erro de logística, cruzou-se ao mesmo tempo pelo corredor onde estava a passar a sua mulher, que o acusava.
Quando o homem viu a sua esposa, atirou-se para o chão, a implorar perdão. Começou a chorar compulsivamente, disse que a amava, e que por favor o perdoasse.
Eu e os meus colegas de mestrado assistimos a este cenário. Os polícias agarraram-no à força, e levaram-no para a sala onde se iria dar lugar à audiência.
A vítima (esposa) é chamada a depôr.... O juiz pede que ela prossiga com a acusação. Ela responde: "Não tenho nada a declarar."
Sem mais, deu-se por terminada a sessão, as queixas foram retiradas, e eles os dois foram para casa juntos.
Esta fase do ciclo de violência doméstica chama-se "Lua de Mel".
O ciclo tem três fases:
Tensão: Discussões, ameaças, perigo eminente.
Explosão: Violência, abuso, maltrato, tendem a piorar com o tempo.
Lua-de-mel: O agressor arrepende-se, dando atenção e carinho à sua vítima, e promete não voltar a fazer.
Existe também uma condição chamada Síndrome de Estocolmo.
O Síndrome de Estocolmo é uma condição psicológica adquirida por vítimas de rapto, maus tratos ou agressão durante algum período de tempo, e nesse período desenvolvem uma SIMPATIA pelo agressor.
Num primeiro momento, estas vítimas simpatizam por instinto de sobrevivência, muitas vezes fingindo essa simpatia para se defenderem.
Com o tempo essa simpatia torna-se real. Aconteceu em vários casos de rapto, por exemplo, depois de muito tempo se encontrar a vítima, ela referir que "ele não era assim tão mau", e mencionar ter saudades dos tempos em que estava cativa.
Porque falo sobre tudo isto?
Porque o comportamento humano tem padrões semelhantes em situações parecidas.
Nos casos referidos acima, principalmente no de violência doméstica, a vítima encontra-se numa situação particular. Está isolada da família, da sociedade, e em termos emocionais e financeiros apenas depende do marido.
Acontece o mesmo com a vítima de rapto. A sua vida, durante um período de tempo, depende apenas no raptor. Só conversa com ele, só se alimenta graças a ele, só está viva graças a ele.
Mas pergunto-me várias vezes, se em termos psicológicos, não será parecido com o caso das pessoas que se apegam a certos problemas.
Todos os comportamentos têm uma intenção positiva, então quando uma pessoa se apega a um problema, o que será?
Será dependência emocional dele?
Será que o facto de teres esse problema, faz com que as pessoas à tua volta te dêem mais atenção? Falas muito nele, ou queixas-te muito dele?
Será dependência financeira?
Estás sempre a queixar-te do teu emprego, do teu patrão, mas nao procuras outro lugar.. ou então procuras passivamente, só para dizer ao teu interior que estás a fazer alguma coisa.
Será dependência a uma história que te dá a desculpa perfeita para ainda não teres avançado na tua vida?
A verdade é que muitos de nós, começamos a relacionar-nos com o nosso problema, em vez de resolvê-lo. Ele dá-nos algum tipo de ganho, mas ao mesmo tempo fica mal eu dizer que o quero ter na minha vida. Então luto passivamente contra ele.
O que acontece é que queixo-me muito do meu problema, mas quando alguém me apresenta uma solução, eu respondo: "Isso não dá, é impossível." E continuo a falar do quão grande o meu problema é. Talvez tenhas mais uns minutos de atenção....
Isso chama-se "Estar na zona de conforto". Ela pode fazer a tua vida muito pequena, relativamente ao que poderia vir a ser.
É necessário não só resolver o problema, mas também procurar a solução do problema, e começar a pensar como será viver sem ele.
"Mas eu não tenho coragem!"
Tens sim. Ela está dentro de ti... Só não a tens usado muito.