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|| DreamAchieve || Sports & Performance

Psicologia do Desporto e Performance || Coaching Desportivo e Empresarial || Formação

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30 Dez, 2016

APEGO AO PROBLEMA

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Quando estava em Madrid a realizar o Mestrado, assisti a uma série de julgamentos. Um desses dias fomos ao tribunal que lidava com casos de Violência de Doméstica.

 

O homem acusado, estava a ser trazido algemado, e por um erro de logística, cruzou-se ao mesmo tempo pelo corredor onde estava a passar a sua mulher, que o acusava.

 

Quando o homem viu a sua esposa, atirou-se para o chão, a implorar perdão. Começou a chorar compulsivamente, disse que a amava, e que por favor o perdoasse.

 

Eu e os meus colegas de mestrado assistimos a este cenário. Os polícias agarraram-no à força, e levaram-no para a sala onde se iria dar lugar à audiência.

 

A vítima (esposa) é chamada a depôr.... O juiz pede que ela prossiga com a acusação. Ela responde: "Não tenho nada a declarar."

 

Sem mais, deu-se por terminada a sessão, as queixas foram retiradas, e eles os dois foram para casa juntos.

 

Esta fase do ciclo de violência doméstica chama-se "Lua de Mel".

 

O ciclo tem três fases:

 

Tensão: Discussões, ameaças, perigo eminente.

 

Explosão: Violência, abuso, maltrato, tendem a piorar com o tempo.

 

Lua-de-mel: O agressor arrepende-se, dando atenção e carinho à sua vítima, e promete não voltar a fazer.

 

Existe também uma condição chamada Síndrome de Estocolmo.

 

O Síndrome de Estocolmo é uma condição psicológica adquirida por vítimas de rapto, maus tratos ou agressão durante algum período de tempo, e nesse período desenvolvem uma SIMPATIA pelo agressor.

 

Num primeiro momento, estas vítimas simpatizam por instinto de sobrevivência, muitas vezes fingindo essa simpatia para se defenderem.

 

Com o tempo essa simpatia torna-se real. Aconteceu em vários casos de rapto, por exemplo, depois de muito tempo se encontrar a vítima, ela referir que "ele não era assim tão mau", e mencionar ter saudades dos tempos em que estava cativa.

 

Porque falo sobre tudo isto?

 

Porque o comportamento humano tem padrões semelhantes em situações parecidas.

 

Nos casos referidos acima, principalmente no de violência doméstica, a vítima encontra-se numa situação particular. Está isolada da família, da sociedade, e em termos emocionais e financeiros apenas depende do marido.

 

Acontece o mesmo com a vítima de rapto. A sua vida, durante um período de tempo, depende apenas no raptor. Só conversa com ele, só se alimenta graças a ele, só está viva graças a ele.

 

Mas pergunto-me várias vezes, se em termos psicológicos, não será parecido com o caso das pessoas que se apegam a certos problemas.

 

Todos os comportamentos têm uma intenção positiva, então quando uma pessoa se apega a um problema, o que será?

 

Será dependência emocional dele?

 

Será que o facto de teres esse problema, faz com que as pessoas à tua volta te dêem mais atenção? Falas muito nele, ou queixas-te muito dele?

 

Será dependência financeira?

 

Estás sempre a queixar-te do teu emprego, do teu patrão, mas nao procuras outro lugar.. ou então procuras passivamente, só para dizer ao teu interior que estás a fazer alguma coisa.

 

Será dependência a uma história que te dá a desculpa perfeita para ainda não teres avançado na tua vida?

 

A verdade é que muitos de nós, começamos a relacionar-nos com o nosso problema, em vez de resolvê-lo. Ele dá-nos algum tipo de ganho, mas ao mesmo tempo fica mal eu dizer que o quero ter na minha vida. Então luto passivamente contra ele.

 

O que acontece é que queixo-me muito do meu problema, mas quando alguém me apresenta uma solução, eu respondo: "Isso não dá, é impossível." E continuo a falar do quão grande o meu problema é. Talvez tenhas mais uns minutos de atenção....

 

Isso chama-se "Estar na zona de conforto". Ela pode fazer a tua vida muito pequena, relativamente ao que poderia vir a ser.

 

É necessário não só resolver o problema, mas também procurar a solução do problema, e começar a pensar como será viver sem ele.

 

"Mas eu não tenho coragem!"

 

Tens sim. Ela está dentro de ti... Só não a tens usado muito.

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No meu primeiro europeu, haviam poucas hipóteses de conseguirmos uma boa classificação, mas existiam claramente duas equipas que tínhamos uma grande esperança de ganhar.

 

A primeira equipa era a Irlanda, e conseguimos, a segunda foi Israel.

 

Israel era uma equipa muito semelhante à nossa. Lembro-me nitidamente que todas as vezes que duelávamos, era sempre super equilibrado, e emoção até ao fim.

 

Estávamos confiantes que o jogo seria nosso, eu inclusive, estava bastante. Estava até ao momento em que percebi a responsabilidade que tinha.

 

Quando começou o jogo, dei-me conta que estava a jogar com uma jogadora bem mais baixa que eu, então os meus treinadores começaram a dar-me instruções para eu ir para dentro. Se eu o fizesse, o um contra um ia ser relativamente fácil.

 

O alarido foi demais para mim... O pavilhão estava cheio, era a nossa última hipótese de ter uma boa classificação, e pelo que eu estava a entender no momento, eu podia contribuir e muito para levar essa felicidade ao meu país.

 

Deu-me uma branca. Eu estava apática, com medo, e sempre que me passavam a bola para dentro, eu lançava a afastar-me do cesto.

 

A jogadora que me estava a defender, mesmo sendo mais baixa que eu, mexia-se super rápido e estava a intimidar-me.

 

Sabem aqueles cães de plástico que se dava no Natal, que abanavam freneticamente, onde o objetivo era tirar as pulgas coloridas com uma pinça? Ela mexia-se assim! Era chata! Eu não estava mesmo a conseguir!

 

Lembro-me como se fosse hoje, de falhar, falhar e falhar.... E a um dado momento do jogo, a Nádia Palongo, que era a capitã na altura, aproximou-se de mim, agarrou-me a cabeça e começou a gritar comigo:

 

"O que é que estás a fazer? A tua cabeça está onde? Precisamos de ti fogo! Concentra-te! Tas com medo de quê? Ela não tem hipóteses contigo! Vamos ganhar isto!"

 

Se isto fosse um filme, esse seria o momento em que a música motivacional começaria a tocar, veria-se nos meus olhos o "Eye of the Tiger", e eu começaria a marcar pontos, marcando inclusive o ponto final no último segundo!

 

Não foi isso que aconteceu... A Palongo bem que tentou, mas eu era uma miúda assustada naquele momento. Perdemos por 4 pontos. Não passámos à fase seguinte...

 

Quando vi a gravação do jogo, já depois de acabar a competição toda, senti-me ridícula. Finalmente entendi o que me estavam a dizer o jogo todo.

 

Engraçado... Se na altura tivesse acesso ao Treino Mental, mesmo que ela fosse maior que eu, de certeza que teria conseguido uma forma de ajudar a equipa.

 

Mas quando os nossos medos nos bloqueiam, até uma formiga nos impede de dar um passo na direção dos nossos sonhos.

 

É como se costuma dizer, para quem tem medo de voar, as asas são um peso.

 

Eu tive medo de assumir... A bola tornava-se um peso na minha mão, parecia uma batata quente.

 

A partir daquele europeu, nunca mais joguei com medo. Podia ser chamada de convencida, de individualista, que passava pouco a bola, mas era uma jogadora com cada vez mais atitude.

 

O medo de voltar a ser ridícula, como naquele jogo contra Israel, tornou-se maior do que qualquer medo de falhar.

 

E com o tempo, a vontade de fazer a diferença pela minha equipa, engoliu todo e qualquer medo.

 

Senti-me muitas vezes nervosa, ansiosa, e obviamente tive momentos de menos confiança. Mas apaixonei-me pelo processo de superar tudo isso. De superar-me a mim mesma.

 

Todos os momentos negativos servem para nos construir como pessoas, se a nossa mente estiver propícia ao positivismo.

 

Senão, o mais provável, é que em vez de aprenderes e te construires, te deixes pouco a pouco, destruir.

 

Depende de ti.

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Alguns diagnósticos psicológicos estão a ser banalizados. Um exemplo é o da bipolaridade.

 

Tenho conversado com um número considerável de pessoas que têm um diagnóstico pré-estabelecido, e pasmem, nem sequer feito por um profissional.

 

Parece que agora qualquer pessoa se pode auto-diagnosticar, e dos auto-diagnósticos que mais tenho observado, logo a seguir à depressão e à hiperatividade, é a bipolaridade.

 

Mas hoje, em vez de dizer O QUE É SER BIPOLAR, correndo o risco que alguém diga "Estás a ver? Eu tenho isto!", eu vou dizer O QUE NÃO É SER BIPOLAR.

 

Não se é bipolar por se mudar de ideias muitas vezes, isso pode acontecer por indecisão ou por algum tipo de insegurança.

 

Não se é bipolar por experienciar uma simples mudança de humor. Há mulheres, por exemplo, que numa certa altura do mês, devido a alterações hormonais, sofrem de mudanças de humor mais bruscas.

 

Não se é ser bipolar por hoje se estar feliz com algo, e amanhã triste com o mesmo. Pode-se simplesmente ter percebido que, o que aparentava ser bom, afinal não é.

 

Não se é bipolar por hoje gostar de uma pessoa para manter um relacionamento, e amanhã descobrir que já não. Entre muitas outras hipóteses, pode ser uma dificuldade em criar relações profundas.

 

Tambem não se é bipolar ao dizer que sim a uma proposta, mas no fundo querer dizer que não. Isso pode apenas ser uma dificuldade em expressar o que se pensa, e preferir agradar às pessoas, dizendo constantemente que sim aos seus pedidos.

 

Se depois de ler isto ainda achas que o teu comportamento, ou de alguém próximo a ti, está relacionado a alguma condição psicológica, consulta um profissional. Se existir realmente algum diagnóstico, mais cedo se dará início ao tratamento.

 

Mas o que te pode prejudicar a sério, é achares que tens algo, não tendo, e repetires constantemente que tens ou que achas que tens.

 

Visto que a mente inconsciente obedece (mais cedo ou mais tarde) aos nossos comandos, o mais provável é que comeces a comportar-te como tal. E talvez até te transformes em algo que não és.

 

Assustei-te o suficiente?

 

Então das duas umas: Ou te deixas de coisas, ou vai a um psicólogo.

 

Se ficares entre esses dois, és apenas uma pessoa que está sempre a queixar-se.

19 Dez, 2016

RESULTADOS

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A maior parte do tempo que estive na Madeira, o meu treinador foi o Juca. Atualmente ele treina a Liga Masculina do CAB, mas no meu segundo ano lá, ele assumiu, e muito bem, a Liga Feminina.

 

Para mim era super divertido treinar com ele. Nos jogos improvisávamos imensa coisa, obviamente tudo treinado, principalmente na defesa.

 

Quando marcávamos ponto, já estávamos treinadas para olhar para o Juca no banco, e ele apenas com as mãos através de símbolos dizia-nos como iríamos defender a seguir. Enquanto corríamos para a defesa, ajustávamo-nos às ordens do treinador.

 

Então não havia uma regra de defender homem-homem depois de marcar, ou defender meio-campo depois de perder a bola, ou zona depois de lance livre... Havia comunicação com o Juca.

 

Ele dava muito espaço para a nossa criatividade, e isso motivava-me imenso.

 

No primeiro ano que estivemos com ele, no início da época tínhamos uma equipa tão forte, que seria uma questão de tempo ganhar o campeonato.

 

Ganhamos a Taça da Liga, a Super Taça, e não perdemos nenhum jogo a nível nacional, até ao Natal.

 

Melhor ainda, estava finamente a cumprir um sonho de jogar na posição 3 (extremo) a tempo inteiro. Que eu simplesmente amava!

 

Trabalhei tanto para jogar a 3, para ser lançadora, para ser mais rápida, melhor defensora.. finalmente estava ali.

 

Mas nada é tão fácil assim né? Quando volto à Madeira, depois dos estágios da seleção no Natal, a equipa levou um balde de água fria.

 

A Fatima Silva, que era a nossa base de cinco inicial e capitã, e as duas estrangeiras que jogavam na posição 4 e 5 (postes super fortes), tinham ido embora.

 

Eu não disse que a equipa era boa? Tão boa que mais de metade do nosso 5 inicial foi convidado para ir para equipas melhores.

 

A Fatima foi para França, graças a um jogão que fez contra uma equipa nas competições europeias. E as estrangeiras, se não me engano, foram para Espanha.

 

O primeiro treino depois do Natal foi mesmo triste... estávamos meias "vazias". Mas no desporto estas coisas acontecem, e já temos que estar mentalmente preparados para mudanças, desafios, imprevistos e abrir mão de certos sonhos.

 

Como o meu sonho de jogar a extremo...

 

O Juca aproxima-se na hora do estiramentos, e começa a falar comigo baixinho: "Nádia, sabes que ficámos sem as estrangeiras, estamos sem postes, é possível que tenhas que ir jogar para dentro..."

 

Acho que nem o deixei acabar de falar: "O que for preciso Juca!.."

 

Ele não disse mais nada, abanou a cabeça em sinal de agradecimento e foi concentrar-se para o treino.

 

Depois ele elogiou a minha atitude à frente da equipa... por ter sido tão automática a altruísta. Mas sinceramente para mim nem havia outra resposta possível...

 

Há treinadores a quem não temos dificuldade em dizer que sim. Mas independentemente de gostarmos dos nossos treinadores ou não, o nosso SIM tem que estar sempre pronto em prol da equipa, ainda que isso aparentemente nos afaste dos nossos sonhos.

 

Chegamos à segunda ronda dos play-offs, entretanto vieram outras estrangeiras para jogar dentro, e eu ia trocando de posição de acordo com a necessidade da equipa.

 

Fizemos uma época em termos de resultados, abaixo do esperado. Mas em termos de união, entre-ajuda, crescimento pessoal, emoções, recordações, e jogos ganhos sem esperar, isso foi muito acima do normal.

 

Na verdade os nossos resultados dependem de como definimos a palavra "Resultados" nas nossas vidas.

 

Secalhar então enganei-me... Em termos de resultados, afinal foi espetacular.

17 Dez, 2016

CAMUFLAGEM SOCIAL

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Pessoas que costumam dizer que cada um tem a sua opinião, mas não respeitam muito a opinião dos outros.

 

Pessoas que dizem o que pensam, mas criticam o que os outros pensam.

 

Pessoas que falam de tudo e de todos com muita propriedade, mas se falam delas, cuidado!...

 

Pessoas que têm a última palavra, que têm sempre razão, que são por vezes difíceis de conviver...

 

Conheces alguém assim?

 

Existe uma necessidade humana de encontrar parecenças com alguém ou algum grupo, para nos encaixarmos e sentirmos que pertencemos a algo. Isso traz-nos segurança.

 

Por outro lado também existe a necessidade da diferença. De sermos distintos de forma a obtermos um destaque por algo que fazemos de forma única.

 

Conjugar estar duas necessidades pode ser, por vezes, um desafio interessante.

 

Por um lado há quem camufle quem é, para ser igual ao grupo. Assim não dá muito nas vistas mas também não é criticado.

 

Por outro lado, esse "não dar nas vistas", também pode causar alguma frustração.

 

Entretanto, tanto que se fala em ser único, "ser tu mesmo", ser criativo, dizer o que se pensa, ter opinião e ser diferente, que algumas pessoas decidiram começar a fazer isso mesmo!

 

Mas ser diferente tem um preço. Existe um processo pessoal que envolve uma construção de auto-estima e personalidade, para que estejamos prontos para pagar esse preço.

 

Ter a minha forma de ser e pensar, envolve que nem todos se agradem com as minhas opiniões, e que até nem todos gostem de mim.

 

Então as pessoas que ainda estão a passar por um processo de crescimento, e decidiram começar a ser quem são, deixaram de ser quem se camufla ao que está à sua volta, para começar a criticar quem não está camuflado às suas opiniões.

 

Ou seja, já não são a pessoa que se deixa levar por quem está à sua volta, mas quer que todos se deixem levar por ela.

 

Não se dão conta que estão a fazer exatamente o mesmo que faziam antes de decidirem ser "elas mesmas". Continuam a precisar de encontrar um meio que se encaixe com quem ela é, apenas inverteram o processo.

 

Então deparamo-nos com o tipo de pessoas que descrevi no início do texto.

 

Na verdade, quem é realmente único (o que na verdade todos somos), respeita as pessoas únicas. Quem é diferente, respeita as diferenças. Quem diz o que pensa, também ouve o que os outros pensam.

 

Se assim não for, é possível que ainda se esteja a desabituar da necessidade de ter camuflagem social à sua volta.

12 Dez, 2016

FITNESS FRIDAYS

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O pouco tempo que estive nos Estados Unidos, serviu para mostrar-me que é no limite que aprendemos as coisas que mais nos transformam.

 

Todas as sextas-feiras era dia de treino físico intenso. Além dos treinos físicos matinais, as "Fitness Fridays" eram características por um desafio físico em equipa.

 

Uma dessas sextas, dividiram as 16 jogadoras, em 4 grupos de 4.. Cada grupo com uma bola medicinal de 8 Kg....

 

As regras eram as seguintes: - Dar 4 voltas a uma certa parte do Campus sem parar de correr; - Nunca podíamos separar-nos do nosso grupo de 4; - A bola tinha que ser carregada pelos vários membros da equipa de acordo com a nossa gestão de esforço, sem tocar no chão.

 

Sabíamos que quando mais rápido corrêssemos, menos tempo teríamos que carregar a bola. Mas também sabíamos que tínhamos que acompanhar o ritmo da jogadora mais lenta.

 

Quando era a minha vez de carregar a bola, tudo doía. Ancas, braços, costas, pernas.... Tudo latejava e eu só queria passar a bola para outra, mas as outras também já estavam cansadas.

 

Cada volta eram entre 10 ou 11 minutos... ainda que as jogadoras sem bola quisessem acelerar para despachar, não podiam.. tínhamos que estar todas juntas.

 

O desafio era ver qual a equipa que chegava primeiro.. Não a jogadora! A EQUIPA!

 

Nas equipas a nossa força acaba no início da fraqueza da colega, e é importante entender que deixá-la para trás não é a solução, é ajudá-la a evoluir.

 

Todos temos objetivos individuais, mas eles são anulados quando não atingimos os objetivos da equipa.

 

Naquele dia, ainda que eu tivesse chegado primeiro que todas, não estaria a cumprir o objetivo da equipa, mas ao mesmo tempo, se eu não desse o meu máximo, também falharia o objetivo coletivo.

 

A maior parte das vezes não é a velocidade que conta, nem é ir mais rápido ou mais devagar, mas sim caminha todas em conjunto!

 

Começo a acreditar que a equipa não é um conjunto de pessoas.

 

A equipa é uma coisa só.

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Esta é a foto anual da minha turma da terceira classe. Eu tinha 8 anos no dia desta foto, bem como quase todos os meus colegas.

 

Todos direitinhos e bonitinhos, todos em filas mais ou menos paralelas... e depois estou eu no canto superior direito, a exibir as minhas tranças.

 

Eu lembro-me deste dia e deste momento, e lembro-me de ninguém ter reparado na figura que eu estava a fazer. Achei que quando se visse nas fotos iam achar-me um máximo, a mais engraçada da turma.

 

A minha professora, de quem eu gostava muito, chamou-me ao lugar dela no dia que as fotos chegaram já reveladas.

 

Num tom suave, para ninguém ouvir, e com uma cara de desilusão, ela ia dizendo: "Oh Nádia, que foto é esta?", "Nádia, o que é isto?", "Nádia, estragaste as fotos da turma.", "Nádia, pareces uma parvinha, uma tola.", "Nádia, nunca mais faças isto!"

 

Tinha mais umas quantas fotos em que eu pegava nas tranças e punha para cima, e outra em que pegava nelas e fazia um nó debaixo do queixo...

 

Fiquei com muita vergonha. Fiquei triste.. Aquilo abalou-me tanto que na quarta classe fui a que fiquei mais direitinha na foto.

 

Ela tinha razão? Sim tinha. Tinha razão de acordo com o sistema educativo de hoje.

 

Eu hoje olho para uma criança de 8 anos e espero que ela agarre nas tranças para tirar uma foto, que faça uma careta, que levanta os braços, ou que faça alguma coisa!

 

É isso que é ser criança! Não me preocupar com o que os outros pensam, ou se vou ficar bem ou não... O que a criança quer é ser feliz.

 

Hoje vivemos num sistema de padrões. Num sistema de "sentem-se todos direitos na cadeira e não façam barulho!".

 

Trazemos isto connosco até hoje. Por isso há pouca gente que pensa fora da caixa, porque todos fomos postos dentro dela.

 

Há determinados momentos, em que precisamos levar as coisas menos a sério.

 

Até há bem pouco tempo tinha vergonha desta foto, e desta história.. porque fui vista como ridícula.

 

Há uns dias olhei para ela de novo, mas desta vez desatei-me a rir à gargalhada. Porque eu estava mesmo feliz! Foi mesmo divertido!

 

Estamos sempre a dosear o que sentimos, a medir o que sonhamos, a padronizar o que ambicionamos!

 

Ser feliz não tem medidas!

 

Pega "nas tuas tranças" e mostra-as ao mundo! São elas que te fazem único!

03 Dez, 2016

TESTANDO LIMITES

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Houve uma pessoa em particular que me chamou muitas vezes à atenção, que me corrigia, que sempre tinha algo a dizer... A Fátima Freitas.

 

Aquilo fazia-me confusão e eu comecei a evitar falar com ela. Parecia que eu estava sempre errada. Era durante o treino, era nas viagens, era depois dos jogos...

 

Porque é que me incomodava? Não sei... Quem é que gosta de ser chamado à atenção? Quem gosta de ter alguém a dizer que o que fizeste não foi suficiente?

 

Houve uma vez que estávamos para começar um treino da seleção, antes do treinador chamar ao centro e começar o aquecimento, e estavam umas 8 jogadoras de um lado a fazer uma brincadeira qualquer, e outras 4 a treinar a técnica de lançamento.

 

Eu estava entre as 8, e ela entre as 4.

 

Ela foi buscar-me pelo braço e disse: "Se queres ser jogadora, procura sempre estar ao pé de quem mais trabalha!"

 

Eu fui.. Contrariada, mas fui.

 

É engraçado porque comecei a época a tentar evitar cruzar-me com ela, e terminei a época já quase sem poder viver sem ela.

 

Porquê?

 

Porque este tipo de atitude que a Faty tinha, já não se vê muito hoje.

 

As pessoas até têm capacidade de liderança, e compreendem a importância do trabalho em equipa, mas não têm coragem de assumir essa posição. Preferem sempre agradar e manter a harmonia.

 

As equipas hoje têm membros que não confiam uns nos outros, o que faz com que alguém pense algo, mas não tenha coragem de o dizer (pelo menos não diretamente à pessoa em questão).

 

Isso só nos impede de crescer! De melhorar! De nos aperfeiçoarmos! Como equipa, como atletas e como pessoas!

 

As jogadoras entre si já não falam. Só dizem um "Bora!" ou "Vamos lá!", mas quando se fala sobre alguma opinião sobre o seu desempenho, quem falar já é visto como arrogante.

 

Tu tens responsabilidade como companheira de equipa de FALAR com a tua colega, se vês que há algo que ela possa melhorar!

 

E mais! Tens também a responsabilidade como companheira de equipa de OUVIR a tua colega, se ela tem algo a dizer-te, que te ajude a crescer!

 

Quando conseguimos passar por cima do nosso ego, das nossas inseguranças, e do nosso orgulho (que foi o que fiz), vemos a preciosidade que é ter colegas que esperam mais de nós.

 

A Faty esperava mais de mim. No fundo tínhamos o mesmo objetivo, só que a minha imaturidade não me deixava ver isso.

 

Vamos falar mais com quem nos rodeia, de uma forma positiva e no tom adequado.

 

Vamos também ouvir mais quem nos rodeia, com o intuito de entender, não com o intuito de argumentar.

 

Não sei exatamente dar-vos um ranking, mas a Fátima Freitas está no meu Top 3 de jogadoras que mais respeito tive, e ainda tenho até hoje.

 

Isto porque, não creio que seja possível, causar impacto na vida de alguém a quem queremos sempre agradar. É testando os limites do outro que fazemos a diferença na vida dele.