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|| DreamAchieve || Sports & Performance

Psicologia do Desporto e Performance || Coaching Desportivo e Empresarial || Formação

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Esta semana a DreamAchieve teve a enorme honra e prazer de poder conversar e trocar palavras de sabedoria com a Isabel Ribeiro dos Santos. Ex-atleta internacional, atual treinadora, tem também três filhas que são atletas internacionais, e é considerada uma das mães do basquetebol português. 

 

DA: Isabel, conte-nos como foi o seu percurso como atleta, e agora como treinadora?

IRS: Esta é uma pergunta que podia dar um livro, tantos anos tenho de atividade no basquetebol. Mas vou tentar descrever em breves palavras.

Tive a sorte de fazer toda a minha infância num país (Moçambique) onde o clima permitia viver grande parte do dia na rua; onde a única distracção era praticar atividade física, ainda que de forma informal, isto é, bastava um grupo de amigos, uma bola (fosse de futebol ou basquetebol ou outra qualquer) uma baliza ou um cesto “artesanal” para passarmos muitos e bons momentos a jogar. Acho, (tenho a certeza) que estas foram as melhores aprendizagens da minha vida, quer como pessoa, quer como praticante desportiva.

Como se não bastasse, o Basquetebol era a modalidade “rainha” em Moçambique. Tive, também a sorte de ter na escola, professores de Educação Física que tinham uma visão muito avançada sobre a influência positiva que o desporto podia ter nos jovens e que me proporcionaram uma passagem por diversas modalidades até aos 14 anos (9ºano). Como não podia deixar de ser, a minha primeira experiência no basquetebol foi através da minha professora que tinha sido jogadora de basquetebol (internacional portuguesa) Regina Peyroteo.

A partir daí foi o trajecto natural, fui para o Clube (Associação Académica de Moçambique) e tive como treinador aquele que considero dos melhores treinadores portugueses de formação, Diogo Amoroso Lopes.

Como já disse atrás, nós passávamos muito tempo a jogar nos tempos livres (que eram muitos), e de forma informal, e por isso acho que a tarefa do treinador nessa altura estava mais facilitada, porque apenas tinha que orientar técnica e táticamente as aprendizagens que nós de uma forma “selvagem” treinávamos quando jogávamos com os nossos amigos.

Com a independência de Moçambique vim para Portugal, como aconteceu com tantos outros jovens Moçambicanos e Angolanos.

Em Portugal ingressei no CIF que naquele tempo era considerado o melhor clube de basquete feminino. Joguei, ainda, no CIC (Clube Independente de Coimbra), Algés e CDUL. Foram 21 anos a jogar, sempre com a mesma vontade. Fui sempre muito exigente comigo. Não sendo profissional, quis sempre treinar como se fosse, de modo a garantir que estivesse no meu melhor em todas as situações. Para mim, não havia férias, gostava de iniciar cada época sempre um pouco melhor que a anterior.

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Desde muito cedo, decidi que queria ser professora de Educação Física e naturalmente ficar ligada á modalidade como treinadora. Sabia que um dia, teria de deixar de jogar e que a experiência adquirida como jogadora me ajudaria a ser treinadora e a influenciar outras jovens a praticar. E é o que tenho tentado fazer ao longo dos últimos 30 anos de prática como treinadora.

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Como não podia deixar de ser, o que fiz como jogadora é o que tento transmitir como treinadora. Achei que a melhor maneira de iniciar uma carreira como treinadora era começar... pelo principio, e por isso dei início ao basquetebol feminino no Sport Clube Maria Pia, no bairro da Graça em Lisboa. Treinei, iniciadas, cadetes, juniores e mais tarde as seniores. Ao mesmo tempo frequentei os cursos necessários para poder exercer a função de treinador, fui a muitas acções de formação e assisti a muitos treinos dados por outros treinadores que eram referência na altura.

 

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(Atualmente a Isabel é treinadora de seniores femininos do Clube do Povo de Esgueira) 

 

DA: A Isabel é vista não apenas como uma treinadora, mas como uma das mães do basquetebol português, e como uma pessoa que faz parte de momentos cruciais da vida de várias atletas. Qual é a sua mentalidade de trabalho?

IRS: Sou como treinadora o que fui como jogadora e o que sou como pessoa. Nós não conseguimos ser uma pessoa diferente de acordo com o que estamos a fazer e por isso aquilo que transmito a todas as jovens que trabalham comigo é o mesmo que tentei transmitir aos meus alunos na escola e o que transmiti às minhas filhas: o valor do trabalho, da exigência, da superação.

Nós não temos de ser melhores que os outros, mas temos de ter a certeza que estamos a dar o nosso melhor e que cada dia que passa aumentamos o nosso potencial e muito provavelmente estaremos entre os melhores, seja em que área for. Nós somos aquilo que o dia a dia da vida nos obriga a viver, e eu tive que pensar sempre que o amanhã vai ser sempre melhor desde que façamos o nosso trabalho.

 

Como no jogo de basquete a melhor jogada é sempre a próxima, a que passou está feita, seja boa ou má já não há volta a dar. Há que pensar na próxima e que esta seja boa.

 

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DA: Qual o paralelo que faz entre as aprendizagens do desporto, nomeadamente do basquetebol, e os valores que construímos para a nossa vida?

IRS: Eu considero que a passagem pelo desporto e neste caso particular pelo basquetebol é a ”pré-época” (preseason – em inglês o significado é mais forte) da vida.

A experiência desportiva, ajuda os jovens a conhecerem-se. É com os colegas de equipa que riem, choram, amuam, discutem, argumentam e estes sentimentos vão persegui-los pela vida fora em outras áreas da vida pessoal. Com o jogo aprendem a lidar com a vitória ou com a derrota, com a exaltação ou com a frustração, com a persistência ou com a desistência.

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Os jovens enquanto jogam são, como costumo dizer, transparentes, isto é, “autênticos”, e um treinador experiente e atento consegue muitas vezes reconhecer o estado emocional em que se encontra o atleta, e pode ajudá-lo a crescer e a desenvolver uma personalidade forte.

 

DA: Quais as características que mais admira num atleta?

IRS: Carácter. Sem qualquer dúvida. Ao fim de tantos anos a lidar com atletas, posso assegurar que não basta ser boa fisica ou técnicamente para se jogar no alto nível. Isso é muito importante, mas decisivo é ter uma personalidade forte, eu diria mesmo de excelência. O que é isso? Para mim é ser capaz de estar completamente comprometida com o trabalho, constantemente focada nos objetivos, sempre perto do limite da superação, que sabe exatamente o que quer e luta por alcançar.

Aquela atleta que nos olha nos olhos com ar de quem está a receber todos os feedbacks que lhe damos; aquela atleta que nos escuta e a seguir tenta fazer o que lhe pedimos; aquela atleta que nunca vira a cara à luta, mesmo quando já está muito cansada; aquela atleta que não tem medo de falhar porque sabe que só fazendo pode evoluir e assume o erro como uma oportunidade para melhorar. Enfim, aquela atleta que revela determinação, compromisso, respeito e responsabilidade, tem com certeza muitas chances de vencer, mas não só no desporto, em todas as áreas profissionais e pessoais.

Estas, digamos, que são as minhas favoritas.

 

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DA: Relativamente à mentalidade atual dos jovens atletas, o que tem a aconselhar?

IRS: Os jovens, hoje, são bem diferentes. Não são melhores nem piores, são diferentes, porque a sociedade também está muito diferente e isso tem reflexos na forma como eles hoje vivem o dia a dia.

 A sociedade é muito mais individualista (cada um de nós tem o seu carro, a sua televisão, o seu telemóvel, o seu computador, etc.), tudo acontece muito mais rápido (à velocidade de um clic estamos a ver o que se passa no outro lado do mundo, etc.); é muito mais competitiva, e podia enumerar muitos outros aspectos que vieram alterar a nossa vida nos últimos anos. Como em tudo na vida, acho que estas alterações têm coisas positivas como negativas, e nós temos de encontrar o equilibrio necessário para” levar a água ao nosso moinho”.

Relativamente ao basquete, também ele sofreu algumas alterações que obrigam os jogadores a ser fisicamente mais aptos, tecnicamente mais capazes e táticamente mais competentes. Quase como que uma ironia do destino, para se conseguir estes atributos é necessário trabalhar muito mais e melhor. Esta é a parte difícil, pois a maioria dos jovens, com a concordância dos pais, acha que para ser bom atleta basta ir aos treinos.

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 (Isabel foi selecionadora nacional de sub-16 femininos durante vários anos)

 

Existe uma enorme diferença entre treinar e ir aos treinos. Por isso o conselho que gostaria de deixar é que treinar requer compromisso permanente com o trabalho, requer disponibilidade mental para estar no treino, requer paciência para repetir centenas, milhares de vezes a mesma coisa, requer respeito pelas instruções do treinador, requer muitas horas de trabalho.

 

Todos queremos ganhar, mas ganhar dá muito trabalho.

 

Nem todos os jovens estão preparados para ganhar se não são capazes de competir. E a primeira competição deve ser com ele próprio, e só depois com os outros. E mesmo assim nada nos garante que vamos ganhar, pois podem sempre aparecer outros melhores que nós.

 

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Mas se tivermos a consciência tranquila de que fizemos o nosso melhor, já ganhámos.

 

DA: E aos jovens treinadores, se lhes pudesse dar um conselho, qual seria?

IRS: Eu fui 5 vezes campeã nacional como jogadora, mas como treinadora não tenho nenhum titulo de campeã nacional. Mas como tu própria descreves numa pergunta que me fazes “uma pessoa que faz parte de momentos cruciais da vida de várias atletas”, isso representa muito mais que qualquer vitória.

Aos treinadores cabe, hoje, um papel ingrato porque:

- As jogadoras pensam muito em função do “presente” e do “imediato”: quantos minutos jogam, quantos pontos marco, treinei tanto e só joguei aquele tempo e a outra jogou mais do que eu, se não jogo mais vale deixar etc, etc.

- Os pais, hoje, com um papel significativo na vida e nas decisões dos filhos, também muito dependentes do que vêm da bancada: se o filho joga, se passam ou não a bola ao filho etc, etc.

- As redes sociais vieram multiplicar a visibilidade dos jogos, dos resultados e dos jogadores.

- A medida corrente é esta: se se ganha está tudo bem, se se perde está tudo mal.

 

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No entanto, o treinador tem outra visão, sabe que o trabalho que desenvolve pode dar resultados a curto prazo, mas também sabe que nem sempre isso acontece e que não é por isso que se está a trabalhar mal, senão só tinhamos maus treinadores pois só um pode ganhar. Isto pode levar a que os treinadores se sintam pressionados a alterar os seus processos de trabalho, a sua maneira de pensar e ir à procura do sucesso mais imediato.

 

Penso que os treinadores devem em primeiro lugar confiar naquilo em que acreditam, não se deixar influenciar por mensagens mais imediatistas.

 

E sempre que tiverem dúvidas no que estão a fazer que procurem outros treinadores com quem possam refletir, conversar e consolidar os seus conhecimentos.

O caminho mais rápido nem sempre é o melhor caminho.

 

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DA: A DreamAchieve promove a importância de temas de Coaching e Psicologia no Desporto. Os temas variam entre mentalidade, reação ao erro, espírito de equipa, foco, concentração, e outros. Na sua opinião, qual é a importância destes temas na prática desportiva, e na vida quotidiana?

IRS: Eu acho que já disse muita coisa nas respostas às tuas perguntas. Sinto cada vez mais necessidade de ajudar as atletas a escolher o caminho que devem traçar, de ajudar a organizar as tarefas do dia-a-dia, de ajudar a conciliar as tarefas escolares com os compromissos da equipa, de ajudar a decidir sobre o que gostam ou não gostam.

Nos últimos anos tenho promovido, no início da época, uma reunião com as atletas para apresentar um conjunto de intenções e objetivos que pretendemos alcançar. No final da época fazemos um balanço e analisamos a nossa prestação. Parece-me que esta partilha de informação e análise aumenta os pontos comuns e diminui os divergentes.

Gostava mesmo que houvesse uma Nádia Tavares em cada clube que pudesse ajudar os treinadores, os dirigentes, os pais a lidar com estas emoções: o que é pertencer a um grupo, fazer parte duma equipa; ganhar/perder; frustrar/exaltar;  jogar ou não jogar; etc.

 

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 (Umas das coisas que as atletas da Isabel mais se lembram, é que ela nunca dá treinos com apito. O seu assobio característico toma conta das regras do treino.)

 

Em apenas uma frase:

 

Momento mais alto da sua carreira: Como jogadora foi quando representei a Seleção Portuguesa de Seniores no Campeonato Europeu. Era um sonho que eu tinha.

Como treinadora tenho vários momentos altos, mas o que me deu mais prazer foi chegar à Liga Feminina com uma equipa iniciada num projecto de desporto escolar e onde a maioria das jogadoras era fruto desse processo. Sempre acreditei e ainda acredito que é na escola que tudo começa.

 

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 (A Isabel arrancou com um projeto de desporto escolar desde o zero. Começou com iniciadas, e chegou a conquistar um lugar na Liga Feminina com atletas seniores, que formou desde o inicio da sua atividade desportiva. O clube hoje é um dos polos de formação de Lisboa, chamado Grupo Desportivo Maria Alberta Menéres ou GDEMAM)

 

Pessoas mais importantes no seu percurso: Os meus pais em primeiro lugar, por me terem apoiado quando quis jogar basquetebol, num tempo em que o desporto feminino era só a ginástica e a natação. Diogo Amoroso Lopes que foi o primeiro treinador e que soube transmitir-me o gosto pelo jogo de basquetebol.

 

O que mudaria em si: Nada.

 

O que não pode faltar na sua vida: As minhas filhas.

 

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(A Isabel tem 3 filhas que são atletas internacionais. A mais nova, Carolina, atualmente estuda e joga nos Estados Unidos. A filha do meio, Filipa, é formada em fisioterapia e joga pelo CAB Madeira. A mais velha, Joana, é formada em Medicina, e joga no GDESSA no Barreiro. A Joana e a Filipa irão defrontar-se este fim-de-semana, na Final 4 da Liga Feminina, na disputa pelo título de campeãs nacionais

 

Frase que a caracterize: O sonho comanda a vida e esta nunca anda para trás!

 

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Há momentos em que parece que estamos estagnados... As coisas não estão bem nem mal, estão como estão e vão andando... Acontece com toda a gente, e são momentos necessários, mas é um perigo passar demasiado tempo neste estado, porque podes perder imensas oportunidades.

 

Eu estava assim num determinado momento, simplesmente a treinar, a ir com a corrente. Não fazia nada de especial, nem me sentia nada além do normal. Estava no CAR Jamor, o que era bom, mas não me sentia a dar uma grande salto na minha evolução. Até que ouvi um conjunto de palavras que criou um antes e um depois...

 

Hora do treino, fui com a atitude de sempre, respeitando o contexto, os treinadores e a equipa o suficiente para fazer a minha parte, mas não fazia nada além disso. Não porque não quisesse, mas porque não conseguia ver capacidades em mim além disso. Faltava-me o click. 

 

Estávamos a fazer exercícios de contra-ataque, já com oposição. Haviam claramente colegas minhas mais rápidas que eu, não havia dúvida disso. Sempre fui vista como "pesada", e era nisso que eu acreditava. Pelo menos até àquele dia...

 

Depois de fazer algumas vezes o exercício, o Zé Leite começou a intervir, a fazer correções, e a fazer ajustes de posicionamento para que o ataque fluísse de forma mais eficaz. Numa das vezes em que foi a vez do meu grupo fazer o exercício, ele parou-me num dos cantos do campo e disse-me aquelas palavras que me "clickaram": 

 

"Nádia, eu não quero que venhas a correr para o contra-ataque, eu quero que venhas a sprintar! Passa por elas! Ganha vantagem! Tu és rápida!". Ele acabou de falar e eu ia colocar-me novamente em posição para seguir com o exercício. Já me estava a afastar, e ele chamou-me outra vez, olhou nos meus olhos, para o fundo mesmo, e repetiu: "Ouviste Nádia? Tu és rápida!" 

 

O tom em que falava era como quem estava chateado, a postura era ativa, e as palavras ficaram a fazer eco dentro da minha cabeça. As minhas colegas começaram a bater palmas em tom de apoio, e eu continuei a treinar com aquelas palavras a flutuar dentro de mim. Decidi acreditar nelas, decidi agir como se fossem a única verdade absoluta... Acredito que aquele foi o meu click naquele momento da minha vida. 

 

Lembro-me que foi nesse altura que comecei a jogar no cinco inicial na posição de extremo no meu clube, que comecei a deixar as adversárias para trás nos bloqueios, a fazer contra-ataques como uma esfomeada. Tudo porque o Zé Milk me fez acreditar. Começou ali, numas simples palavras, em dois segundos o assunto ficou resolvido. 

 

Por vezes, o que tenho observado, é que os treinadores, pais, educadores, professores, quando querem corrigir, falam e reagem de acordo com o que eles mesmos sentem, e descarregam uma frustração por causa do erro do atleta, filho, aluno... As palavras que dizemos nestes contextos não devem ser apenas porque "estou chateado, vou explodir!" 

Devem ir além, muito além disso. As palavras devem ser ditas de acordo com a necessidade do atleta, filho e aluno... Não há outra forma de motivar na comunicação, a não ser que entendas as necessidades de quem está do outro lado.

 

No meu caso, a minha necessidade não era ouvir comentários de que não estava a fazer nada, de que tinha que me esforçar mais, ou que era molengas.... A minha necessidade era acreditar em mim, e acreditar que podia ter um papel mais importante na equipa. 

 

Treinar, educar e ensinar não deve ser sobre quem dá, deve ser sobre quem está a receber. Os nossos egoísmos às vezes fazem com que nos esqueçamos disso.

 

É hora de lembrar-nos disso. 

 

 

 

 

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Esta semana foi a vez de Nuno Marçal partilhar da sua sabedoria com a DreamAchieve. O Nuno tem 41 anos e foi considerado o MVP da 1ª fase da Liga Masculina da presente época. 

 

DA: Nuno, como foi o teu percurso como atleta até hoje? 

NM: Comecei a praticar basquetebol aos 9 anos, no F.C.Porto, percorri todos os escalões de formação, desde o minibasket até aos seniores, onde me mantive até 1999.

 

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Na época de 1999/2000 ingressei na Liga ACB, no Fuenlabrada, tendo regressado ao FCPorto na época seguinte, mantendo-me até 2003. Nas 3 épocas seguintes representei a Oliveirense, Murcia e Huelva, as 2 ultimas, da LEB Oro. Regressei novamente ao FCPorto até ao verão de 2012. Em 2012/13 assinei pelo Maia Basket, onde estou até à data.

 

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DA: Qual foi a tua aprendizagem mais importante ao praticar basquetebol a nível internacional, tanto em Espanha, como nos momentos em que representaste a Seleção Nacional? 

NM: Acima de tudo foi poder jogar ao mais elevado nível competitivo e poder defrontar grandes jogadores. Sou um competidor nato, no bom sentido, e foram desafios muito enriquecedores.

 

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DA: És um atleta muito respeitado no mundo do basquetebol, que há umas semanas atrás, com 41 anos foste considerado o MVP da 1ª fase da Liga Placard. A teu ver, qual o segredo para uma carreira desportiva longa e de sucesso?

NM: Não há um grande segredo nos bastidores desta longevidade. Apenas um amor enorme pela modalidade, saber cuidar do corpo e ter sorte nas lesões, que também é importante. Faço o que gosto, logo tento desfrutar cada segundo.

 

DA: Todos os atletas têm momentos altos e baixos. O que aconselhas aos atletas que possam estar a passar por um momento menos bom? 

NM: Lutar ainda mais e, acima de tudo, nunca desistir.

 

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DA: Na tua carreira já deves ter trabalhado com muitos treinadores. Qual a característica que mais admiras num treinador? 

NM: A capacidade de extrair de nós o melhor que temos para dar. Liderar pelo respeito e não pelo medo.

 

DA: Na tua opinião, como caracterizas a mentalidade desportiva dos jovens de hoje, e de uma forma construtiva, o que mudarias? 

NM: Acho que os jovens de hoje têm mais dificuldade em aceitar as críticas do que há 25 anos atras, por exemplo. Saber ouvir um treinador é muito importante e foi algo com que cresci, desportivamente. 

 

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DA: A DreamAchieve promove a importância da Psicologia e do Coaching no Desporto, bem como de vários temas relacionados. Na tua opinião, qual a importância da componente mental, tanto no desporto como na vida quotidiana?

NM: É fundamental. Hoje em dia, em qualquer desporto ou área profissional, a componente mental assume um papel extremamente relevante no sucesso pessoal e profissional.

 

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Em apenas uma fazer diz-nos:

 

Momento mais alto da tua carreira: 1º título sénior pelo FCPorto (1995/96)

 

Maior aprendizagem que tiveste no desporto, e que aplicas na tua vida: Espírito de equipa

 

Pessoas mais influentes na tua carreira: A minha família 

 

Conselho aos atletas que te admiram: Nada vem de borla. Trabalho pelos vossos sonhos e nunca desistam deles

 

Frase que te caracteriza: Seja mais forte que a sua melhor desculpa 

 

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Não sei se é possível influenciar uma pessoa, sem primeiro criar uma ligação com ela. E também não sei se é possível criar uma ligação com alguém, se nos apresentamos numa posição de superioridade.

 

Para haver uma ligação há que haver vulnerabilidade, abertura, coragem para assumir erros... É assim que nos ligamos!

 

Somos todos tão parecidos, mesmo nas nossas diferenças...Se te apresentas como perfeito ninguém te irá entender, porque é algo irreal.

 

É por isso que acredito que o segredo da liderança e influência positiva está na transparência.

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No primeiro Campeonato da Europa de Sub-18 que participei, ainda só tinha 15 anos. Tinha idade de Sub-16...

 

Eu sabia desde o início que não ia jogar muito tempo, e que só de estar ali já era um privilégio, mas no fundo tinha esperança de que contassem comigo para ajudar a equipa a ganhar.

 

Nesses momentos, ainda que sem esperanças, criamos expectativas até um pouco irreais na nossa mente. Fantasiamos sobre salvar um jogo, marcar 10 triplos, fazer crossovers espetaculares... Pensamos em tudo! Menos naquilo que importa, que é fazer o que nos foi pedido!

 

Chegou a hora do primeiro jogo, contra a Alemanha. As mulheres eram gigantes, deviam ter uma média de mais 20 centímetros de altura relativamente a nós.

 

O Professor Carruna e a Prof. Gilda insistiam muito no bloqueio defensivo. Se assim não fosse, iríamos ser esmagadas nos ressaltos.

 

Entrei no jogo com o nível de confiança do costume, estava tranquila e fiz o que esperavam de mim. Sem inventar, seguindo as indicações dos treinadores e do base...

 

Até que aconteceu um momento em câmera lenta... Estamos a defender, há um lançamento, e a jogadora que eu estava a defender era tão grande que eu senti que apenas encostar-me a ela não ia chegar... Ela facilmente ganhava-me o ressalto por cima da minha cabeça. Então, empurrei-a com o corpo para fora de campo e ganhei o ressalto! Sofremos falta e o jogo pára...

 

O Professor Carruna chamou-me ao pé do banco e disse: "Tavares! Ganda bloqueio defensivo!" Estendeu a mão para dar-me um Hi5, e deu com tanta força que fiquei com o braço todo marcado de vermelhão com a mão dele! Mas sabem uma coisa? Não doeu... Fiquei toda arrepiada com aquela reação! Fiquei feliz e senti uma adrenalina enorme!

 

Percebi a importância de fazer o meu trabalho, sem inventar, sem querer ser sempre a heroína. Isso acontece muitas vezes com atletas da seleção. Nos clubes são muito bons (por isso são chamados), e depois querem ter o mesmo papel na seleção. Isso não acontece. O que acontece é que cada atleta deve saber o seu papel, com o objetivo de criar uma equipa.

 

Se fizer a minha parte já é muito bom! Se conseguir fazer mais de uma forma natural, ainda melhor! Mas querer sobressair num jogo em equipa, para depois estragar todo o trabalho coletivo, de que adianta?

 

Já agora. Eu só percebi tudo isto, porque tive um treinador que soube elogiar estes pequenos detalhes. Passei o jogo todo a afastar aquela jogadora da tabela, porque houve alguém que valorizou isso. Joguei 25 minutos, não ganhei quase ressalto nenhum, mas a grandalhona também não!

 

O que faz mesmo a diferença não é chegares e quereres mostrar que és melhor, é mostrar que estás disposto a dar tudo pela equipa.

 

Se estiveres disposto a aceitar qualquer que seja o papel que te é dado, e a cumprir esse papel com tudo o que tens dentro de ti, acredito que para qualquer equipa será uma honra poder contar contigo.

 

 

 

 

 

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Ainda me lembro quando era mega fã do Kobe Bryant... Queria apanhar os jogos todos dele para decorar o trabalho de pés que ele fazia. Ia para o treino experimentar, treinar, repetir vezes sem conta o que tinha visto no jogo dele. Depois de um tempo, o movimento que eu mais treinava, começou a ser naturalmente o meu ponto forte. 

 

Quando começamos a praticar alguma modalidade, e começamos a construir objetivos e a imaginar um futuro, também começamos a procurar referências. Pessoas que sejam um exemplo, e que se assemelhem àquilo que desejamos alcançar. 

 

Quando esse modelo é encontrado, pode acontecer de se começamos a falar muito dele, de usar as mesmas roupas, penteado, forma de andar. Dentro de campo queremos fazer os mesmos gestos, ter as mesmas reações, dizer as mesmas frases. Este comportamento é adotado na esperança de termos os mesmos resultados da pessoa que dizemos ser fã. 

 

Mas isso não chega. Nem de perto nem de longe. O segredo da modelagem (termo usado para "imitar" um modelo na esperança de nos tornarmos como ele), não está em observarmos os resultados que o modelo teve ou tem. Se repararmos o resultado é uma consequência da identidade, valores, objetivos, forma de estar, atitudes diárias, e até do contexto onde nos encontramos. 

 

Se realmente queremos alcançar o que o nosso modelo alcançou, temos que FAZER o que ele fez para chegar a esse nível. Queremos modelar resultados sem modelar comportamentos. Queremos ser campeões, sem fazer o que os campeões fazem. 

 

Muita gente fala, e quer ser como o Cristiano Ronaldo. Imitam o penteado, o estilo, a forma de estar em campo, os festejos... Poucos fazem o que ele faz. Poucos treinarm as horas que ele treina, com a intensidade que treina, e poucos têm o cuidado que ele tem com a alimentação, descanso e recuparação ativa. Poucos são capazes de não se deixar afetar pelas coisas negativas como ele.

 

Muitos também falam do Michael Phelps, que ganhou algumas dezenas de medalhas, entre Jogos Olímpicos, Mundiais, e outras competições. Poucos sabem que durante 5 anos, ele treinou 8 horas por dia, sem um único dia de folga. Isto são 1826 dias sem descanso. São 56 horas de treino por semana, e são 14608 horas de treino em 5 anos. O corpo dele tornou-se numa máquina. Quem sabe por vezes ao sexto dia de treino na semana, exijas descansar sempre o sétimo. Ou quem sabe, quando treinas mais de duas horas, já é horrível para ti. Ao ter um descanso por semana, no último ano treinaste menos 52 vezes do que ele treinaria. E mesmo que treines as sete vezes, apenas a treinar duas horas por dia, treinaste menos 42 horas que ele por semana. Entendes a diferença?

 

Muitos falam da eficácia do Stephen Curry, e a cada jogo querem saber quantos pontos é que ele marcou desta vez. Ninguém pergunta quantas séries de lançamentos ele faz nos treinos, ou quantos lançamentos ele se obriga a si mesmo a marcar antes de sair do pavilhão. 

 

"Mas oh Nádia, estás a falar de estrelas de topo, assim também é difícil..." Então mas não são estas as pessoas que tu admiras? 

 

Se tens um modelo, acho excelente. Uma das técnicas de Treino Mental e Coaching, é encontrar alguém que se admire, e começar a modelar o comportamento dessa pessoa. O problema está em querer alcançar o que ela alcançou, sem fazer o que ela fez. Quando analisas o que essa pessoa faz, é aí que encontras o teu real modelo, porque resultados de topo, todos queremos. Pagar o preço, poucos querem.  

 

Esta é a razão da frustração de tantos atletas, sonham muito, fazem pouco. Querem marcar mais pontos que os outros, mas treinam o mesmo que os outros. Querem correr e saltar mais que os outros, mas treinam à mesma intensidade que os outros. Querem chegar mais longe que os outros, mas não têm disposição para fazer nada além daquilo que lhes é pedido. Não há iniciativa nem criatividade, simplesmente sonham sem fundamento prático. 

 

Pergunta-te quanto é que estás disposto a dar pelo teu sonho, quão envolvido estás naquilo que tens que fazer, e quanto estás disposto a pagar. 

 

Se a tua resposta é pouco, tenho uma novidade para ti... Não tens referências, tens ídolos, e és um mero fã. 

 

Se a tua resposta é dar o que for preciso, apenas te aconselho a que procures saber o que as tuas referências fizeram, e que além de tudo o que já imitas, imites ou superes isso também. 

 

Depois desfruta do caminho, e vê o que acontece! 

 

 

 

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07 Abr, 2017

VPN: HORA DE PARAR

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Todos os sábados será publicado um artigo de Desenvolvimento Pessoal na Página Vivências Press News.

 

Sabes aquele emprego que já não cumpre os teus objetivos? Sabes aquele lugar que já não se enquadra com os teus valores? Sabes aquela relação que já não te faz feliz? É hora de parar!

 

“Que horror Nádia! Que raio de conselho é esse? Onde está o lado positivo? Onde está o sermão de que tudo é possível? Toda a gente me diz para ter esperança que as coisas vão melhorar e tu dizes-me para desistir?”

 

Existe uma grande diferença entre desistir, e tomar uma decisão:

- É desistir quando, ainda defendendo com unhas e dentes que quero a recompensa que vem depois do esforço, afasto-me devido ao preço que tenho que pagar.

- É uma decisão de parar quando, mesmo que o esforço já não seja tão grande, aquilo pelo que eu estou a lutar já não me faz sentido.

 

Temos muita tendência de entrar em rotinas e de construir hábitos onde nos sintamos confortáveis, e às vezes esses hábitos são tão fortes e rotineiros, que eu nem sei exatamente porque estou a fazer o que faço, simplesmente faço. Mesmo sabendo que algo naquilo já não me agrada. Pode ser um emprego, uma relação de amizade ou amorosa, um lugar, ou outra coisa qualquer…

 

Por vezes a vida passa e nós mudamos, e essas coisas ficam iguais. Não quer dizer que em determinado tempo, esse emprego, pessoa ou lugar, não tenha tido o seu sentido. Claro que teve. Teve a sua importância, até para o nosso crescimento e para que as experiências nos ensinem. Mas há coisas que, por vezes, já nos fazem mais mal, do que bem.

 

Nesse caso, ao contrário do que tantas vezes se fala, não é preciso ter força para continuar, para perseverar, para insistir… É hora de reunir forças para parar. Parar também é uma decisão legitima, quando é congruente com o que tens dentro de ti: os teus valores, princípios, objetivos e intenções.

 

O que acontece muitas vezes é que ficamos com medo de abrir mão de alguma coisa que teve na nossa vida tanto tempo. Porquê? Porque aquilo, por muito que não fosse exatamente o que eu queria, pelo menos já era terreno conhecido, e agora, ao tomar esta decisão, vou ter que partir para o desconhecido, e muitas vezes começar tudo de novo, não é? Não!! Claro que não começas tudo de novo! Tu continuas com a tua vida, e trazes tudo o que aprendeste contigo. Nada se começa do zero, tens experiências, feedbacks e uma bagagem que não tinhas antes.

 

Só uma nota, isto não se aplica a casos em que sabes que no teu emprego não estás a dar o teu melhor, ou no caso de numa relação não estares a saber estabelecer compromissos. Isto aplica-se a casos em que, já tendo dado tudo de ti, e estando continuamente a ser honestamente diligente, vês que aquilo que ao início te movia, já não te move. Quando isso realmente acontece, é hora de partir para outra, que se enquadre com a nova pessoa em que te transformaste.

 

Faz parte da evolução e do desenvolvimento do ser humano. Precisamos de segurança e de rotina, mas também precisamos de variedade e de crescimento. O equilíbrio entre esses dois é o que faz com que conquistes ao crescer, e que estabeleças ao conquistar. Um sem o outro pode fazer com que percas constantemente o que conquistas porque não estabeleces, ou porque não desenvolves e acabas por atrofiar as tuas conquistas.

 

Se acabaste de conquistar estabelece, mas se estás estabelecido, e dentro de ti, sabes que queres mais, já não estás estabelecido, estás acomodado. É hora de parar, e partir para outra conquista. Vais ver que aquilo que até parece ser motivo para medo, vai ser um desafio divertido!

 

Até para a semana!

 

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Autora: Nádia Tavares - DreamAchieve 

Fonte: Vivências Press News

8 de Abril de 2017 

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Esta semana a DreamAchieve teve a honra de poder falar com Ricardo Vasconcelos, atual Selecionador Nacional da Equipa Sénior Feminina, e definitivamente um dos melhores e mais reconhecidos treinadores de basquetebol de Portugal.

 

DA: Ricardo, conta-nos porque decidiste ser treinador de basquetebol, e como tem sido o teu percurso a nível de clubes, e como selecionador nacional?

RV: Eu iniciei o caminho de treinador com as equipas de Mini-Basquetebol no Sport Algés e Dafundo. À data, estava a frequentar o 12ª ano (que era composto por apenas 3 disciplinas) e sobrava-me muito tempo livre para quem demorava cerca de 3 horas em transportes públicos para me deslocar ao clube onde treinava. Assim, para rentabilizar o tempo, comecei a dar treinos aos mais novos, que treinavam mais cedo, para depois treinar por dois escalões... Dessa forma, as minhas três horas de transportes públicos eram diluídas em cerca de 4 a 5 horas de basquetebol. Após a experiência com os mini, passei a treinador adjunto dos iniciados masculinos com meu amigo Filipe Alberto. Antes que a segunda época desportiva com os iniciados terminasse, em Dezembro, tive de passar para adjunto das Cadetes Femininas, visto que a treinadora Ana Sanchez estava no último ano do FMH e tinha alguma dificuldade para estar presente em todos os treinos e jogos. Terminada a época, fui convidado para ser adjunto das Juniores e Seniores Femininas, onde trabalhei com o meu companheiro Paulo Nuno Vieira. Só depois iniciei o trajeto de treinador principal de vários escalões de formação e posteriormente Seniores Femininos do SAD. No meio deste percurso treinei também a Seleção distrital de Lisboa e só mais tarde, em 2005, tive o convite do CAB Madeira para ser treinador principal da equipa, que era à data campeã nacional. Mas para abraçar esse projeto teria de mudar toda a minha vida... Aceitei! Nesse mesmo verão, iniciei a minha colaboração com as Seleções Nacionais e a FPB.

 

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O meu primeiro desafio foi com as U18 Femininas, onde fui adjunto do meu bom amigo Eugénio Rodrigues. Mais tarde, também com ele, trabalhamos juntos nas U20 Femininas, e posteriormente quando terminei a minha ligação ao CAB, a FPB convidou-me para trabalhar no CNT de Calvão/Seleção U16 Feminino devido à impossibilidade da continuidade no cargo por parte do Rui Gomes (que foi decisivo no início deste projeto).

 

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Foi um dos mais gratificantes em que tive envolvido. Nele, tive o privilégio e a possibilidade de formar jovens num contexto profissional. Em 2010, fui convidado para ser Selecionador Nacional das Seniores Femininas.

 

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Foi uma grande honra, e ainda o é hoje, pois é uma função que continuo a desempenhar, e que sinto ser um dos maiores desafios da minha carreira. Trabalhar com as melhores jogadoras do país, é um privilégio enorme, muito reconfortante, mas as dinâmicas, as variáveis e as janelas de preparação atualmente são demasiado curtas para as necessidades da equipa... é então inevitável o sabor a pouco no tanto que é trabalhar com elas.... Quando terminou por falta de verba o CNT, voltei às origens, e durante dois anos tive envolvido com a formação do SAD. Após dois anos a treinar juniores femininas, o Illiabum Clube convidou-me para liderar a equipa Sénior Masculina que estava de volta à Liga.

 

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DA: Tens fama de trazer sempre resultados positivos com o teu trabalho, tanto na evolução de atletas, equipas, e também subidas de divisão e vários troféus. Qual a tua mentalidade de trabalho? 

RV:

Acima de tudo, a minha mentalidade de trabalho é acreditar no trabalho!

 

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É sempre das coisas mais difíceis na vida, a auto-análise. Se reparamos no panorama atual da modalidade, todos dizem que esta está muito pior, mas os mesmos todos acham que estão, ano após ano, a fazer muito melhor.... É portanto, fácil entender que existe um problema de análise quando falamos de basquetebol em Portugal. Tentando analisar o meu método, eu diria que acredito num processo de ensino do jogo “da parte ao todo e do todo à parte”... ou seja, treinar basquetebol é como construir e destruir um puzzle, peça a peça, muitas vezes ao longo de uma época desportiva, em que, se existir evolução, o puzzle tem cada vez mais peças, mas não tem necessariamente que ser maior o quadro final... Pode ou não ser, de acordo com o nível dos praticantes vs competição em que estão inseridos. Acredito também, ser fundamental entender que nenhuma técnica é realizável sem um desenvolvimento físico adequado para a execução da mesma, que nenhuma escolha tática é genuinamente feita se não existir um domínio total das varias técnica para executá-la, e, portanto, nenhuma tática pode ser posta em ação se os atletas não têm capacidade de ler e escolher de acordo com as variáveis do jogo...

 

Quando assim é, já “só falta” o mais importante, saber competir, e para isso é fundamental ter jogadores mentalmente saudáveis!

 

Se iniciarmos este processo pelo fim, saber competir, então teremos atletas (não necessariamente atléticos) mentalmente saudáveis, mas não teremos JOGADORES... mas é só a minha opinião...

 

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DA: Nos momentos de maior pressão, é fácil esquecermo-nos dos nossos objetivos principais, e desviarmo-nos para coisas pequenas que nos tiram a concentração. Como fazes para te manter focado, a ti e aos teus atletas?

RV: Estabelecer objetivos para mim é sonhar com algo. É dar corpo a uma ideia. É criar um destino diferente do ponto de partida. Assim, quando o faço, o que me parece fundamental é definir um caminho que me leve até ao destino sonhado. Ao longo do processo, procuro encontrar sinais que me levem a concluir se estamos ou não a ir na direção certa, sendo por certo que muitas vezes não estamos, e, portanto, procuro ajustes ou mesmo novos trajetos. Por outras palavras, o meu trabalho é encontrar soluções para contornar e contrariar obstáculos de forma a chegar onde queremos, e focar-me nelas, nas soluções, é a melhor forma de me manter concentrado. Claro está, que se não tenho consciência de onde estou nem para onde quero ir, qualquer caminho serve para lá chegar…

 

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DA: Por todo o país encontramos atletas que têm admiração por ti, como pessoa e como treinador. Quais os teus princípios para que exista uma boa relação treinador-atleta?

RV: : Honestidade e frontalidade. Tenho para mim que quando trabalho com alguém é fundamental ter uma capacidade de comunicação e diálogo que possibilite dizer o que se espera, onde estamos e onde queremos chegar. Tento desde cedo estabelecer acordos e compromissos de forma a tornar o sonho/destino mais “nosso” e menos “meu”. Exijo o máximo de mim, espero um determinado mínimo deles...

 

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Procuro muito coerência no trabalho do dia a dia! Para mim, a prioridade da minha equipa é sempre, o desenvolvimento individual de cada jogador. Acredito que quanto melhor for o jogador e melhor entenda o seu papel no coletivo mais fácil será a nossa caminhada! Assim, enquanto os meus atletas não deixarem que o seu umbigo cresça mais que o seu cérebro, estarei sempre 100% disponível para os ajudar!

 

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DA: Na tua opinião, quais as 3 características principais de um atleta de sucesso? 

RV: Treinável, auto-disciplina, gostar/saber competir.

 

DA: Qual pensas ser o ingrediente principal para uma equipa funcionar de forma fluida? 

RV: Ideias claras do que procuram em cada situação do jogo. Papéis definidos e aceites pelos atletas. Informação necessário e não demasiada. Por outras palavras, poucas dúvidas e muitas ideias à mistura com algumas certezas!

 

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DA: A DreamAchieve promove a importância da Psicologia e do Coaching no Desporto, bem como de vários temas relacionados. Na tua opinião, qual a importância da componente mental na prática desportiva, e na vida em geral? 

RV: : É, e será, cada vez mais, absolutamente decisivo no desempenho do Ser Humano! Num mundo de aparente facilitismo e grande pressão/exposição social em que vivemos neste momento, acredito que será fundamental o apoio mental no indivíduo desde cedo na sua fase de crescimento. No que toca ao alto rendimento, e neste caso concreto desportivo, já todos os projetos de alto nível tem apoio nesta área, quer no nosso país, quer pelo mundo fora, pois é fundamental ter as cabeças “livres” para poder “preencher” com confiança e positividade, de forma a atingir a melhor performance possível.

 

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Concentração e confiança aparecem como palavras chave num mundo de rendimento, e ambas são parte do cérebro!

 

Em uma frase diz-nos:

 

Pessoas importantes no teu percurso:

Tento sempre ficar com algo de cada um, mas ter tido a possibilidade de estar perto do trabalho de formação desenvolvido diariamente pelo Prof. Jorge Adelino, Prof. Fernando Joia e Prof. Carlos Teigas, fez de mim um privilegiado!

 

Momento mais marcante da tua carreira:

Quando em 2005 me tornei profissional de basquetebol… O basquetebol, aos meus olhos, ganhou uma dimensão diferente...

 

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O que não pode faltar na tua vida:

Amor, da sua forma mais genuína à sua composição mais ética…

 

Conselho a todos os atletas: 

Potencial = Talento + (Capacidade de Trabalho * 10)

 

Frase que te caracteriza: 

“Pouco conhecimento faz com que as pessoas se sintam orgulhosas. Muito conhecimento, faz com que se sintam humildes”

 

“Apesar de reconhecer o direito a todos de poderem dar a sua opinião, não reconheço capacidade intelectual em todas as pessoas…”

 

 

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 Dia 3 de Abril, a DreamAchieve realizou um Workshop com árbitros de basquetebol da zona de Lisboa, com a Tema "Coaching e Psicologia no Desporto".

 

Os objetivos deste Workshop basearam-se no desenvolvimento da Performance da arbitragem, e foram abordados temas relativamente ao foco e concentração, comunicação e influência, definição de objetivos, mudança de comportamento, tudo em prol da alta performance. 

Este tipo de temas têm-se vindo a tornar cada vez mais essenciais, não apenas na prática desportiva, mas também no conhecimento tanto pessoal como do outro que, ao serem adquiridos, aumentam a probabilidade de resultados em qualquer contexto.

 

Abaixo seguem comentários de participantes deste Workshop:

 

Daniel Pereira

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Frederico Bento

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Paulo Mina

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Paulo Martins

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 Obrigada a todos os participantes. Em breve teremos mais eventos.

 

 

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Já não é a primeira vez, nem acredito que será a última, que alguém me diz que ter uma vida de atleta faz com que se percam imensas coisas, que é um desgaste enorme, e que apesar de ser giro, não é vida para ninguém. 

 

Realmente pode dar essa impressão. Ter uma vida de competição faz com que andes a maioria do tempo cansada, indisponível, sem tempo, longe de família ou amigos, e a viver exigências que outros não vivem.

Normalmente o tempo livre de um estudante ou trabalhador é o fim da tarde e noite, e os fins-de-semana. Jantam fora, vão a aniversários, casamentos, cinemas e convívios sem qualquer problema. A vida dita "normal" tem essa margem de manobra para tempo de lazer. Mas um estudante-atleta, ou atleta profissional, até mesmo para nos dedicarmos mais às pessoas de casa, é difícil... Aos fins de tarde e noite é hora de treinar, e fins-de-semana, hora de viajar e jogar.

Estudar horas seguidas, mesmo que tivesse tempo, era difícil aguentar a ler durante muito tempo sem ficar com sono, por causa do cansaço acumulado. Trabalhos de grupo é quase impossível, porque não coincidimos num horário para nos encontrarmos com os nossos colegas. Ir a uma palestra ou workshop fora das horas das aulas é muito difícil, porque até para ir às aulas todas já é um malabarismo. Para quem anda nas seleções destritais e nacionais, podem também esquecer férias de Natal, Carnaval, Páscoa e Verão... São preenchidos por estágios e competições. 

 

Agora pensa um pouco neste discurso acima... Estão a entender o problema? Enquanto se fala de tudo o que um atleta "perde" por estar a treinar, não se fala do que estamos a ganhar, quando não estamos a fazer essas coisas ditas "normais". Tudo o que descrevi acima é o que normalmente se faz, quando seguimos o ritmo normal das coisas, só que naturalmente um atleta tem um outro ritmo. Um atleta não "perde", um atleta "ganha". Ele não deixa de fazer coisas, ele apenas faz coisas diferentes. E que coisas...  

 

Esta foto foi tirada por uma das minhas colegas de equipa, por brincadeira, numa viagem que fizemos a França para competir na Liga Europeia. Além da França, nesse ano fomos a Russia e Bélgica, onde já tinha estagiado pela seleção. Nesse ano já tinha ido à Lituânia também, a um Campeonato da Europa. Além desses países fui a outros 24 em competição ao longo da minha carreira, incluindo Itália, Irlanda, Estados Unidos, Grécia, Luxemburgo, Bulgária, Polónia, Macau, Suécia e Inglaterra... Alguns deles mais que uma vez. Umas vezes tivemos mais tempo para passear, outras não, mas todas foram experiências incríveis. 

 

Conhecemos imensa gente, outras culturas, outras mentalidades... Cada viagem é uma aprendizagem que não vem em livros. Há coisas que, por muito que nos sejam ditas, só ficam dentro de nós depois de serem vividas.

 

Além de todas estas andanças únicas, fazer parte de uma equipa não tem preço. Passar pelas dificuldades, pelas derrotas e vitórias, pelos treinos bons e treinos maus... Tudo isso faz com que tenhas experências pessoais que num outro sítio, sentada a tomar café com colegas, não tens. Por isso é que normalmente, quem praticou desporto, principalmente coletivo, sabe trabalhar em equipa como ninguém. 

 

À parte de tudo isso, ganhas um espírito de sacrifício e entrega por tudo o que fazes. Tudo a que te propões, queres fazer bem e com paixão. Sabes que tudo é possível porque tiveste jogos em que tudo parecia perdido e deste a volta. As analogias entre o que fizeste dentro de campo, e aquilo que hoje tens para conquistar na tua vida, são infinitas. E não, ninguém te pode ensinar, a não ser que tenhas estado lá. 

 

São poucos os meios onde podes adquirir tudo isto, o desporto de competição é um deles. Não sinto que tenha perdido nada, sinto que ganhei e muito. Se tivesse tido o ritmo de vida chamado "normal", hoje não teria nada para contar, nenhuma vontade de inspirar, nem nada para dar. 

 

Tudo depende da forma como olhas para as coisas, e isso depende daquilo que está dentro de ti. Eu não acho que a minha temporada como atleta tenha sido sacrificada, muito pelo contrário, foi espetacular!

 

Qualquer pessoa pode dizer que foi a um casamento, mas poucos podem dizer que foram num grupo de amigos competir na Russia, e que depois do jogo, estiveram na rua a atirar neve por brincadeira, numa temperatura de 13 graus negativos. 

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 E muitos podem dizer que foram jantar fora com colegas da escola ou universidade, mas poucos podem dizer que foram em equipa passar 15 dias no sul de Itália para um Campeonato Europeu, num hotel à beira da praia.

 

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E sim, deu tempo de irmos conhecer Roma...

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Também muita pessoas podem dizer que participaram em todos os eventos de família, mas poucos podem dizer que cantaram o hino nacional antes de uma competição onde tiveram oportunidade de representar o seu país. 

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Muitos podem dizer que tiveram uma vida estável, e que tudo correu dentro da normalidade até conseguirem concluir os estudos e começar a trabalhar. Poucos podem dizer que viveram em vários sitios, ao terem a oportunidade de serem contratados para equipas fora da sua zona de residência. Vivi no Funchal, em Coimbra e em Madrid. 

 

Muitos podem dizer que fizeram muitas coisas, e todas elas serem boas, mas acreditem que o que os ateltas fazem também é bom, e muito. 

 

Só para concluir, apesar de nem sempre poder fazer as coisas ditas normais, também fui ao cinema, fiz praia, também tive algumas férias, fui a alguns casamentos e eventos familiares. À parte disso terminei a minha Licenciatura no tempo requerido, Mestrado e trabalhei em Espanha. Ou seja, nada ficou perdido, fiz tudo o que tinha que fazer, e ainda acrescentei experiências espetaculares. 

 

Ter uma vida assim é um sacrificio ou uma oportunidade? Talvez seja um sacrifico que nos oferece imensas oportunidades!

 

 

 

 

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