O MEU "PORQUÊ"...
Lá estava eu com o prémio de MVP na mão, depois de um torneio com a seleção... Cansada, lesionada, mas sem reclamar... Queria fazer o meu melhor.
Tinha o joelho ligado, e já não sabia se coxeava por causa das dores, ou por causa da ligadura que estava super apertada para me proteger de outras lesões... Tinha-me lesionado num treino mas, nada disso impediu de eu estar dentro de campo, e de eu dar o meu melhor...
Há algo que nos move dentro de nós, algo que vai além da motivação, além do combustível que dizemos ter, que nos empurra para os nossos objetivos. Se tivéssemos a oportunidade de perguntar numa sala cheia de gente motivada: "O que é que te motiva?", iríamos encontrar todo o tipo de respostas diferentes. E ainda que as respostas fossem iguais, os significados das respostas seriam diferentes.
O segredo está aí. No "porquê" que faço o que faço. No objetivo do objetivo. É entendendo isso que entendemos as pessoas, que as conhecemos e que as influenciamos... Ou seja, que as motivamos. Isso quer dizer que as pessoas são motivadas de formas diferentes. É óbvio, mas não tanto.
Lembro-me perfeitamente de ter alguns (não muitos) conflitos com outras pessoas, porque ficava inquieta quando via alguém que não se superava.
Para mim, jogar com o joelho, o pé, a mão, o que fosse, com ligadura, desde que a fisioterapeuta deixasse, para mim era razão extra de motivação. Mas para outros não. E eu não entendia isso.
Criticava muito quem não se levasse até ao limite, quem eu achasse que não estava a dar o máximo para chegar a um nível mais alto. Excluía inconscientemente da minha vida quem não vivesse de acordo com esse lema.
O meu valor mais alto, o meu "porquê", é e sempre foi a superação. É por isso que faço o que faço, por necessidade constante de me superar. A mim e o que me rodeia. Mas eu nem sempre o soube. E tal como não sabia que esse era o meu valor mais alto, também não sabia que o valor mais alto de outra pessoa, podia ser outro. Sendo assim, achava que todos tinham que ser como eu, achava que motivação era motivação e ponto final.
Hoje vejo isso nas equipas. As pessoas não querem conhecer os valores dos outros, querem impor os seus! Acham que as sua forma de ver o desporto e mundo é a correta, sem saber que o outro pensa que a sua é que é a correta.
Não há forma correta! Há a forma de cada um. Há quem valorize a superação, como eu, há quem valorize a ética, há quem valorize a organização, há quem valorize a amizade, há quem valorize o respeito... Umas não excluem as outras, mas há sempre uma mais importante que todas as outras. Há sempre um valor que não pode faltar.
Antes de eu dar um nome ao meu valor (à superação) achava que a minha forma de estar era a única. Irritava-me, discutia, arranjava problemas com quem não vivesse em constante superação. Ou com quem por exemplo, por ter que usar uma ligadura, já não pudesse treinar. Se eu podia, o outro também podia!
Quando percebi que os motivos (motivações) das pessoas variam tanto como o seu DNA, foi quando comecei a apaixonar-me pelo conhecimento do comportamento humano. É aí que tiramos o melhor das pessoas, que trabalhamos no seu máximo potencial.
Se sabes dar nome aos teus valores, isso é ótimo!
Mas se sabes dar nome aos valores das pessoas que te rodeiam, de atletas, de treinadores, melhor ainda!
Se conheceres os valores de alguém, conheces as suas motivações, os seus "porquês", aquilo que lhe faz único, e, obviamente, diferente de ti.
Se conheceres realmente alguém, tens a chave para motivá-lo.
Não é inteligente queres abrir cinquenta portas diferentes, com a mesma chave. Vais partir a chave, e a fechadura também. Depois disso, não há quem abra essa porta.
Cada porta tem a sua chave. Não é mais engraçado assim?