ENTREVISTA: BEATRIZ JORDÃO
Esta semana a DreamAchieve teve a oportunidade de partilhar experiências com a Beatriz Jordão, atleta internacional portuguesa, que atualmente representa a equipa da Quinta dos Lombos, na Liga Feminina.
DA: Beatriz, como foi o teu percurso desportivo até hoje?
BJ: O meu percurso desportivo começou pela escola! Era uma miúda com 11 anos e os seus 179cm! Penso que dava nas vistas! Nas aulas de educação física o professor dizia-me que para além de altura também tinha jeito e então pediu-me para ir fazer uns treinos à equipa do desporto escolar, que era liderada por uma professora ligada ao basquetebol, em Pombal. Após o meu 1º treino falou logo comigo para ver se eu queria experimentar a modalidade. Esbocei um sorriso na cara e disse-lhe logo que sim, até porque naquela altura não tinha nenhuma atividade no meu dia-a-dia. Numa semana tratei de tudo e já estava a treinar no Basquete Clube de Pombal (BCP).
No fim desse meu 1º ano, fui convocada para um estágio da seleção nacional de sub-15 no Calvão. Tinha apenas 12 anos, fiquei radiante! Como era possível?! Não sabia para o que ia, mas sabia que tinha de aproveitar aquela oportunidade ao máximo. Na época seguinte mudei para o Núcleo do Desporto Amador de Pombal (NDAP), devido à falta de apoio financeiro no BCP. Pelo NDAP conquistei uma Taça Nacional e um Campeonato Nacional. Após 18 anos Pombal volta aos palmarés do basquetebol! Que momento! Aproveito para agradecer a este clube que me permitiu ter um futuro risonho. Em 2013/2014 fui convidada para ingressar a equipa do Centro de Alto Rendimento do Jamor. Tive também passagens pelo CPN, clube que me proporcionou viver altas experiências, e atualmente represento a Quinta dos Lombos! Paralelamente a este percurso, tenho integrado as seleções nacionais jovens, tendo sido feito o meu 1º Europeu em 2012/2013, sendo ainda sub14. Tem sido um trajeto longo, com altos e baixos, mas principalmente enriquecedor!
DA: Qual a característica que acreditas ser a mais importante num atleta?
BJ: Acredito que um atleta só é verdadeiramente atleta se a sua vontade de trabalhar for superior à de vencer. Nada vem por acaso, só com trabalho se alcança o sucesso. E o trabalho advém da humildade. O querer aprender, o saber ouvir e o reconhecimento do erro. Estes três aspetos são fulcrais para o desenvolvimento de um trabalho digno de atleta.
DA: O que representou para ti ser uma das únicas 12 atletas de basquetebol portuguesas a competir num Campeonato Mundial?
BJ: Para mim ser uma das 12 atletas que teve a oportunidade de representar Portugal no Campeonato do Mundo foi um orgulho. Foi e continua a ser. Fomos umas privilegiadas. Tivemos a oportunidade de partilhar o nosso basquetebol com as maiores potências mundiais. Partilhar de experiencias! Vamos ficar na história do Basquetebol Mundial! Afinal Portugal é capaz de competir a alto nível!
DA: Que aprendizagens do basquetebol consideras serem possíveis de transferir para a tua vida?
Uma das coisas que utilizo bastante na minha vida são os valores que o basquete me transmitiu e continua a transmitir. O respeito pelo outro, a disciplina, o trabalho, a ambição… Estes valores começam a ser adquiridos assim que se começa a prática da modalidade desde o cumprimento de horários, de regras, ao espirito de sacrifício, o trabalho em equipa, o querer cada vez mais e mais… Todos estes valores são transferidos de forma positiva para o nosso dia-a-dia. Se quero ter boas notas, vou ter de estudar muito assim como se quero ter um lugar na equipa, vou ter de treinar muito. Outro exemplo é o cumprimento de horários. Se chegarmos atrasados a um treino pagamos. Se chegarmos atrasados ao emprego somos despedidos. Neste sentido, o basquetebol faz-nos crescer enquanto seres humanos e espero poder contribuir com estas aprendizagens para uma mudança no pensamento da sociedade! Estes valores de que falei são a base do saber estar.
DA: O que te motiva a lutar diariamente pelos teus sonhos com tanta persistência?
Eu apenas penso numa coisa: se eu não o fizer, quem o vai fazer por mim?! Se não for eu a lutar, quem luta?! Sou uma pessoa de ideias fixas.
Se tenho um objetivo vou trabalhar para alcançá-lo.
Não me importa o que possa vir a encontrar pelo caminho. Não sei se vão haver muitas barreiras ou muitos buracos. Apenas me vou focar em passar por eles e seguir em frente. No fim, quando olhar para trás e ver quantos obstáculos fintei, vou-me orgulhar do caminho percorrido e vou querer voltar a fazer coisas destas, pois a vontade de continuar é a minha alegria futura!
DA: A DreamAchieve promove a importância de temas de Coaching e Psicologia no Desporto. São abordados temas relacionados à componente mental dos atletas… Na tua opinião, qual a importância desta referência na prática desportiva, e mesmo na vida quotidiana?
BJ: Todos os atletas sabem que para se ter sucesso temos de nos focar a 100% no nosso objetivo. Para tal, é preciso que fatores exteriores não se intrometam no nosso caminho. Como fatores exteriores temos o meio em que o atleta está inserido, qualquer conflito existente a nível social, o stress, todas as adversidades que nos surgem no dia-a-dia e entre outros… Devemos portanto trabalhar nesse sentido, trabalhar para que estes pormenores, que fazem toda a diferença, não nos façam desviar do trajeto traçado por nós próprios. Aprender a lidar com qualquer tipo de situação. É nesta vertente que o coaching e a psicologia no desporto são importantes. A meu ver, deveria de se apostar mais nesta área.
DA: Se pudesses dizer algo a todos os atletas que te admiram, o que seria?
BJ: Que tenham sempre um sorriso na cara, independentemente de tudo. Sorriam para tudo o que fazem. Somos privilegiados por jogarmos a mais bela das modalidades. Façam as coisas por gosto e com dedicação.
Nunca desistam dos vossos objetivos. Não basta querer muito uma coisa, se o querem demostrem-no!
Trabalhem sempre ao vosso máximo e quando pensarem que não dá mais, então é altura de continuar e de se superarem.
Em apenas uma frase diz-nos:
Momento mais alto da tua carreira: Ter sido vice campeã da Europa e ter participado no Mundial.
Pessoas mais importantes no teu percurso: Os meus pais, irmãos e a minha avó, as famílias que me acolheram em suas casas, todos os treinadores que tive mas em especial, o meu 1º treinador -Jorge Martins- que é o meu padrinho da modalidade, o Celso Casinha e a “sua team”, e o mestre Agostinho Dias Pinto.
O que não pode faltar na tua vida: Os amigos, a família e a bola de basquete.
O que queres fazer quando terminares a tua carreira desportiva: Sinceramente ainda não penso nisso porque vejo-me a ter muitos anos de carreira. Ainda assim, vejo-me ligada ao basquetebol, seja de que maneira for!
Frase que te caracterize: Pedras no caminho? Apanho todas e um dia construirei um castelo!
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