ENTREVISTA: NUNO MANAIA
Esta semana a DreamAchieve esteve à conversa com Nuno Manaia, considerado o Treinador do Ano da Liga Feminina, e que esta época conquistou pelo GDESSA (Grupo Desportivo Escola Secundária de Santo André) a Taça de Portugal e o Campeonato Nacional.
DA: Nuno, conta-nos como foi o teu percurso como treinador?
NM: Dei o meu 1º treino a uma equipa de Sub14 Femininos no CIBA em 1996, por brincadeira, pois não tinham treinador na altura. Foi "amor à primeira vista", pois adorei aquela 1ª experiência. Continuei pelo CIBA nos anos seguintes, treinando Sub-16 e Sub19 e conseguimos alcançar excelentes resultados para um clube de pequena dimensão, com diversas presenças nas Fases Finais dos Campeonatos Nacionais e alguns títulos regionais de Lisboa.
Segui depois para o Algés onde estive 2 anos com as Sub-19. Era um clube onde a exigência era maior e onde pude trabalhar junto de outros treinadores, trocar impressões com eles. Foi importante para o meu crescimento como treinador.
Depois mudei de residência para o Pinhal Novo e surgiu o convite do GDESSA, que decidi aceitar.
Enquanto estive na liderança do GDESSA penso que cumpri o meu papel, pois criámos uma filosofia de jogo muito própria, que nós conhecíamos muito bem e também os nossos adversários sabiam o que iam encontrar. Foram 12 anos inesquecíveis, não só pelo basquetebol, mas também pelas amizades que criei com todo o "staff" e atletas.
DA: Todas as equipas que treinaste ao longo dos anos, adquiriram uma capacidade de superação fora do normal, são sempre muito ativas e jogam com muita garra. Que princípios aplicas no treino de uma equipa?
NM: Concordo com essa apreciação.
A minha liderança sempre foi baseada no exemplo, se quero que as minhas atletas se empenhem, eu próprio tenho que dar 100% de mim para poder pedir-lhes o mesmo.
A palavra Superação faz parte do dia-a-dia, pois queremos sempre mais. Em suma, o jogo é o reflexo do treino.
DA: Na tua opinião, quais são as características mais importantes de um atleta?
NM: Existem um conjunto de características que são fundamentais, e quando não se conjugam, dificilmente teremos um grande jogador ou jogadora. Um atleta pode ter muito talento, mas pode-lhe faltar atitude, ambição, poder de concentração, conhecimento, etc, etc. Julgo que quando estes fatores que referi se conjugam, temos um grande atleta.
DA: Que lições da profissão de treinador, levas para a tua vida?
NM: Muitas, muitas mesmo. Treinar uma equipa é um trabalho de construção muito complexo, em que nem todos pensam ou executam da mesma forma. Treinar um atleta e vê-lo uns anos mais tarde a ter sucesso é fantástico, é um pouco de nós que está ali. A vida fora do Basquete também tem situações semelhantes, como por exemplo aquilo que ensinamos aos nossos filhos, as regras que lhes vamos transmitindo, ou seja, vamos construindo a sua educação.
DA: Este ano alcançaste dois grandes feitos no clube que treinaste (GDESSA): conquistaram a Taça de Portugal e o Campeonato Nacional. Nesta sequência foste eleito o Treinador do Ano da Liga Feminina, pela ANTB. Considerando que és um treinador de referência, o que aconselhas aos treinadores que estão em início de carreira?
NM: Não sei se sou um treinador de referência, mas já percebi que outros treinadores me perguntam agora mais coisas do que o que faziam há uns anos atrás. Penso que primeiro devem gostar do jogo e sacrificar-se por ele. Devem estudar o jogo, aplicar esse conhecimento gradual todos os dias no treino/jogo. Não devem "empurrar" as culpas para os outros, por mais desapontados que estejam com os resultados obtidos. Devem sempre olhar primeiro para si e para o seu grupo de trabalho, de forma a perceber o que se pode corrigir para numa próxima oportunidade terem sucesso.
A humildade é um aspeto decisivo num treinador.
DA: A DreamAchieve promove a importância do Treino Mental, através da Psicologia Desportiva e do Coaching. Na tua opinião, qual a importância destas da componente mental na performance de um atleta?
NM: Esta é uma área ainda pouco explorada no desporto, nomeadamente no basquetebol em Portugal. Eu próprio não sou um conhecedor desde tipo de treino. Tenho as minhas ideias, mas também preciso de aprender mais sobre esta vertente que está agora a aparecer de uma forma mais evidente na nossa modalidade.
Não tenho dúvidas que a componente mental é decisiva na "performance" dos atletas.
Quando um jogador se consegue abstrair de outros fatores e consegue-se focar na sua tarefa, neste caso no jogo ou no treino, o seu rendimento vai ser substancialmente melhor.
DA: Além de treinador, és um elemento fundamental no departamento técnico da Federação Portuguesa de Basquetebol, tendo acompanhado e observado centenas de atletas e equipas de outros países, e estando presente em dezenas de campeonatos europeus de todos os escalões.
Com esta visão, o que acreditas que cada um (dirigentes, treinadores e atletas) pode fazer para melhorar o Basquetebol português?
NM: Os agentes do Basquetebol devem-se focar primeiro naquilo que os próprios podem fazer para melhorar a sua intervenção na modalidade, naquilo que podem controlar. Por vezes existe a tendência de dizer que a culpa é dos outros e esse é o 1º passo para a desresponsabilização. Devemos todos assumir os nossos erros e tentar corrigi-los, pois será esse o caminho para um melhor Basquetebol.
Em uma frase diz-nos:
O que não pode faltar na tua vida: A família, claro.
Pessoas com mais influência na tua carreira: José Tavares, atual DTR de Lisboa, foi a pessoa que mais influenciou a minha carreira de treinador (nunca lhe disse).
Se não estivesses ligado ao desporto, o que gostarias de estar a fazer: O desporto é a minha vida, nem sei o que responder.
Frase que te caracterize: Costumo dizer "Não faças o que te dá jeito, faz o que tem que ser feito"