FESTEJA E GRAVA! OUTRA VEZ!...
Estava mesmo debaixo do cesto, e foi montado um duplo bloqueio para eu lançar de três pontos, de frente para a tabela. Meti a jogadora no bloqueio, recebo a bola a um tempo em afastamento do cesto, lanço de triplo... Festejo! Jogo de Europeu contra a Holanda não era fácil, tudo o que acontecia de bom merecia ser valorizado.
Cumprimento a minha colega que me passou a bola de forma super confortável para melhorar o meu lançamento.
Aquele momento aumentou a minha confiança, a minha alegria, e a minha união com a minha colega e com a equipa.
Depois de ter tido esta reação duas vezes, à terceira estava toda a equipa a festejar também. Além das minhas colegas, no canto do meu olho conseguia ver desconhecidos a festejar fora do campo.
Se há coisa que me arrepia, que me rouba um sorriso, e que me traz lágrimas aos olhos sempre, é ver a vulnerabilidade de um atleta quando alcança um pequeno objetivo, como conseguir fazer um movimento que tanto treinou, ou principalmente quando realiza um sonho numa grande competição.
Quando vejo grandes finais de qualquer desporto, quando vejo Jogos Olímpicos, Campeonatos Europeus, Mundiais... E vejo no final aquelas reações, volto no tempo...
Sempre soube que me identificava com aqueles sentimentos por ter sido atleta, mas recentemente descobri que não é só isso.
Quando trabalho com atletas que querem aumentar os níveis de motivação, de confiança, de competitividade, trabalho muito nas reações. Porque aquilo a que damos importância fica gravado dentro de nós.
Sem entrar em muitos detalhes científicos, o facto é que, no final do jogo, do treino, ou de uma competição, a sensação que te fica é aquela a que deste importância. Pois aquilo a que dás importância é o que cresce dentro de ti.
O que tenho visto ultimamente é atletas que dão muito importância aos erros, verbalizando-os, baixando ou encolhendo os ombros, abanando a cabeça, refilando com algum colega ou com os árbitros; e atletas que dão pouca importância ao que fazem de bom, agindo com se não fosse nada.
Então quando o atleta erra ele expressa-se. Quando acerta age como se fosse a coisa mais normal do mundo. O que fica gravado foi aquilo a que ele deu importância. Então a pessoa às vezes até jogou bem, até teve uma prestação positiva, mas vai ter uma sensação e uma perceção de que esteve mal.
Mas o truque está em fazer exatamente o contrário. Está, em termos emocionais, gravarmos o máximo de emoções positivas. Festejar sempre que possível quando se acerta. Apoiar (a ti mesmo ou o outro) quando se falha.
A tua memória, ao gravar estas sensações, vai querer senti-las outra vez. E é a busca por esses momentos que te torna mais confiante, motivado e competitivo. Quanto mais longe chegas, mais longe queres chegar, porque uma vez que chegaste lá, e ao mesmo tempo deste importância ao assunto, já não vais querer outra coisa.
O Cristiano Ronaldo começou querendo jogar fora de Portugal, depois queria ser o melhor do mundo, depois ganhar Campeonatos, depois a Champions, depois o Europeu... E não poupa festejos! Atira tudo cá para fora! Ele aumenta aquilo que é bom! Nunca o vi falar daquilo que é mau! E quando erra é o primeiro a auto-motivar-se.
Essas sensações ficam guardadas. E o melhor é que não vais começar a sentir a tua motivação a aumentar apenas no jogo seguinte. Se começares a gravar esses momentos positivos agora, é possível que, como me acontece a mim, fiques arrepiado só de ver alguém a festejar ao teu lado, ou do outro lado da televisão. E é também possível que fiquem gravados para toda a tua vida.
Se aconteceu algo mau apaga a sensação que sentiste. Não lhe dês importância.
Se foi bom, festeja e grava! Vai ser mais fácil teres motivação, confiança e competitividade para fazer outra vez, ou até melhor. É disto que os atletas de topo se alimentam.