MIND OVER MATTER
Como jogadora, sempre gostei de ter a bola na mão, de marcar pontos, de lançar, de arriscar.. A minha marca era essa. Mas para que uma equipa funcione, por vezes a nossa marca tem que desaparecer...
Houve um jogo, inesquecível para mim, em que a minha missão era só uma: defender a Aja Parham! Sem ajudas! O jogo inteiro!
A Aja era uma norte-americana, que jogava na equipa que era atual campeã nacional. Já tinha jogado contra ela noutros jogos, e não tinha corrido muito bem para o meu lado.. Era bem mais rápida que eu, saltava mais que eu... Ultrapassava-me, fazia-me cortes nas costas... Num segundo estava aqui, bem à tua frente, bastava pestanejares e ela já estava noutro sítio... Ela era a grande fonte de pontos da equipa.
Peguei no sentido de competitividade que tinha em querer marcar pontos, e transformei-o em parar aquela americana. O orgulho no meu jogo era que ela só marcasse 8 pontos!
Andei o jogo todo colada a ela. Ela não podia nem levantar o braço! Eu conseguia sentir a sua respiração.
Primeiro período.. Segundo... Eu só tinha descanso quando ela saía de campo... Terceiro período e eu já não conseguia mais, o quarto foi o pior...
Recupero uma bola, vou em contra-ataque com vantagem de dois contra um... Mas eu não conseguia nem pensar.. Para mim o melhor, quando há indecisão, é lançar. Pelo menos assim há possibilidade de marcar.
Lancei... Falhei!
A minha colega, bem mais experiente que eu, começa aos berros comigo: "Passa a bola, estava sozinha!"
Sentia o meu cano respiratório a diminuir e começava a ficar completamente consciente da minha respiração.. Conseguia ouvi-la e senti-la no peito...
Desconto de tempo!
Quando a buzina toca para voltar, demora sempre aqueles 5 segundos. Assim que a ouvi a ensurdecer o pavilhão, tapei a cara com a gola da camisola e comecei a chorar descontroladamente! O cansaço, o berro da colega, a pressão do jogo equilibrado...
Ninguém viu aquele momento, só a fisio, que me pôs um saco de gelo na nuca para me refrescar...
A buzina pára e o meu choro também! Limpei a cara disfarçadamente, como se tivesse a limpar o suor, e levanto-me para voltar para o campo! Já está, já descarreguei, hora de matar a Aja!
Entro em campo e finalmente marco! Dois triplos seguidos! Venho para a defesa, a bola sai..
Baixo a cabeça com as mãos nos joelhos e olho para a Aja.. E ela toca-me no ombro, sorri e diz:"Working hard ha?"
Eu limitei-me a sorrir. Quem diria que ia ser a minha inimiga mortal a dar-me motivação para acabar aquele jogo em grande.
A Aja marcou 8 pontos nesse jogo, e eu também.
Normalmente uma pontuação fraca para mim, só que eu sentia-me a voltar da guerra toda cortada e cheia de sangue, mas com a vitória.
Sim, ganhámos!
Vale ou não vale a pena?
Deixar o ego de lado em prol da equipa? Trabalhar por objetivos coletivos em vez de pessoais? Ultrapassar os limites do nosso corpo e ouvir a força da nossa mente?
Se a tua resposta é não, arruma as botas.
Porque se não vale a pena nada disso para ti, nada mais valerá.