O MAIOR IMPREVISTO DA MINHA VIDA
Não gosto muito de imprevistos. Preparar-me para uma coisa e acontecer outra, é algo que me afeta, mas ao longo do tempo tenho criado estratégias para me adaptar rapidamente.
Aprendo refletindo sobre o assunto, mas principalmente quando sou posta à prova num imprevisto que surja.
A maior prova foi a minha viagem aos Estados Unidos. Não devo ter sido a primeiro pessoa a passar por algo semelhante, mas até à data não conheço ninguém que tenha passado por algo assim.
Estava na Madeira, já era final de época, a passear no piso -1 do Fórum (o detalhe só é importante para perceberem que me lembro como se fosse ontem), o meu telefone LG Touch Chocolate toca! Número estrangeiro. Recebi um telefonema de um treinador americano. Queria que fosse jogar para a universidade que ele ia treinar.
Na altura tinha tudo encaminhado para ir para Madrid, mas visto que EUA está vinculado a uma bolsa de estudos, não podia esperar. Espanha podia... Pelo menos na minha perspetiva na altura.
Comecei a tratar de tudo para ir para os Estados Unidos. Visto aprovado. Viagem marcada. Malas para 2 anos feita. Chegou o dia. Chorei metade do voo. Fazer um escolha pressupõe sempre que deixamos algo para trás. A outra metade dormi.
Cheguei. Ninguém à minha espera. Eu sem telefone. Já não me lembro como consegui falar com uma das treinadoras, mas disseram-me que tinha que esperar um pouco. Fiquei cerca de uma hora na rua, com as malas, à espera. Finalmente alguém chegou.
Duas colegas levaram-me às compras. Comprei lençóis, uma colcha, um mini frigorífico, e alguns lanches.
Fui dormir sem conseguir falar com ninguém da minha família. Adormeci a chorar.
Dia seguinte fui conhecer pessoas. Treinadores. Orientador de Mestrado. Fui conhecer o Campus. Que sonho! Tinha tudo a distância de passo. Pavilhão, ginásio, biblioteca, salas de aula, cantina, dormitórios... Tudo novo, bom aspeto, grande, com condições que gritavam sucesso!
À parte da adaptação ao trabalho de preparação física, que estava a ser de morrer, estava a começar a integrar-me facilmente.
15 dias depois de estar lá, chamam-me al gabinete do treinador para me dizer que o meu processo de aprovação da bolsa com a NCAA afinal não estava finalizado, que faltavam detalhes.
Não stressei muito nesse momento, o que fosse preciso eu faria. Se me tinham mandado ir para os Estados Unidos, era porque estava tudo bem. Não iam voltar atrás agora que já estava lá... Pensava eu...
Papel para cá, papel para lá... Chega o maior imprevisto da minha vida. Preparada para passar dois anos numa experiência americana, desportiva e académica, com 40 dias de ter chegado a notícia era que não tinha direito a bolsa.
Foi desespero de não saber para onde ir jogar e estudar, foi tristeza pela rejeição, foi raiva por me terem mandado para lá sem certezas, foi uma confusão de poucos dias, em que estava de volta a Lisboa. Acabei por ir para Madrid, mas em condições totalmente diferentes.
Hoje quando um avião atrasa, ou apanho trânsito, ou pensava que uma coisa ia correr de uma forma e não correu... Não gosto, mas estou treinada.
Se tu pensavas que o teu ano já deveria estar a correr de forma diferente, se estavas à espera que algo acontecesse e não aconteceu, se alguma coisa te apanhou de surpresa... Lembra-te que podemos sobreviver a qualquer imprevisto, e inclusivamente aprender e crescer com eles.
Eu cresci, aprendi, dei a volta e criei outras experiências. Não foi à toa que fiquei 4 anos em Madrid. Não é à toa que estou aqui hoje.
Se estás a passar por algo que não esperavas, “Go with it!”, se já está a acontecer e não há nada a fazer, vê o que esse imprevisto te pode dar.
E força! Muita força!
Até para a semana!
P.S.: Sou o número 33 na foto.