PALAVRAS QUE FAZEM CLICK!
Há momentos em que parece que estamos estagnados... As coisas não estão bem nem mal, estão como estão e vão andando... Acontece com toda a gente, e são momentos necessários, mas é um perigo passar demasiado tempo neste estado, porque podes perder imensas oportunidades.
Eu estava assim num determinado momento, simplesmente a treinar, a ir com a corrente. Não fazia nada de especial, nem me sentia nada além do normal. Estava no CAR Jamor, o que era bom, mas não me sentia a dar uma grande salto na minha evolução. Até que ouvi um conjunto de palavras que criou um antes e um depois...
Hora do treino, fui com a atitude de sempre, respeitando o contexto, os treinadores e a equipa o suficiente para fazer a minha parte, mas não fazia nada além disso. Não porque não quisesse, mas porque não conseguia ver capacidades em mim além disso. Faltava-me o click.
Estávamos a fazer exercícios de contra-ataque, já com oposição. Haviam claramente colegas minhas mais rápidas que eu, não havia dúvida disso. Sempre fui vista como "pesada", e era nisso que eu acreditava. Pelo menos até àquele dia...
Depois de fazer algumas vezes o exercício, o Zé Leite começou a intervir, a fazer correções, e a fazer ajustes de posicionamento para que o ataque fluísse de forma mais eficaz. Numa das vezes em que foi a vez do meu grupo fazer o exercício, ele parou-me num dos cantos do campo e disse-me aquelas palavras que me "clickaram":
"Nádia, eu não quero que venhas a correr para o contra-ataque, eu quero que venhas a sprintar! Passa por elas! Ganha vantagem! Tu és rápida!". Ele acabou de falar e eu ia colocar-me novamente em posição para seguir com o exercício. Já me estava a afastar, e ele chamou-me outra vez, olhou nos meus olhos, para o fundo mesmo, e repetiu: "Ouviste Nádia? Tu és rápida!"
O tom em que falava era como quem estava chateado, a postura era ativa, e as palavras ficaram a fazer eco dentro da minha cabeça. As minhas colegas começaram a bater palmas em tom de apoio, e eu continuei a treinar com aquelas palavras a flutuar dentro de mim. Decidi acreditar nelas, decidi agir como se fossem a única verdade absoluta... Acredito que aquele foi o meu click naquele momento da minha vida.
Lembro-me que foi nesse altura que comecei a jogar no cinco inicial na posição de extremo no meu clube, que comecei a deixar as adversárias para trás nos bloqueios, a fazer contra-ataques como uma esfomeada. Tudo porque o Zé Milk me fez acreditar. Começou ali, numas simples palavras, em dois segundos o assunto ficou resolvido.
Por vezes, o que tenho observado, é que os treinadores, pais, educadores, professores, quando querem corrigir, falam e reagem de acordo com o que eles mesmos sentem, e descarregam uma frustração por causa do erro do atleta, filho, aluno... As palavras que dizemos nestes contextos não devem ser apenas porque "estou chateado, vou explodir!"
Devem ir além, muito além disso. As palavras devem ser ditas de acordo com a necessidade do atleta, filho e aluno... Não há outra forma de motivar na comunicação, a não ser que entendas as necessidades de quem está do outro lado.
No meu caso, a minha necessidade não era ouvir comentários de que não estava a fazer nada, de que tinha que me esforçar mais, ou que era molengas.... A minha necessidade era acreditar em mim, e acreditar que podia ter um papel mais importante na equipa.
Treinar, educar e ensinar não deve ser sobre quem dá, deve ser sobre quem está a receber. Os nossos egoísmos às vezes fazem com que nos esqueçamos disso.
É hora de lembrar-nos disso.
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