QUANDO ME DEU UMA BRANCA
No meu primeiro europeu, haviam poucas hipóteses de conseguirmos uma boa classificação, mas existiam claramente duas equipas que tínhamos uma grande esperança de ganhar.
A primeira equipa era a Irlanda, e conseguimos, a segunda foi Israel.
Israel era uma equipa muito semelhante à nossa. Lembro-me nitidamente que todas as vezes que duelávamos, era sempre super equilibrado, e emoção até ao fim.
Estávamos confiantes que o jogo seria nosso, eu inclusive, estava bastante. Estava até ao momento em que percebi a responsabilidade que tinha.
Quando começou o jogo, dei-me conta que estava a jogar com uma jogadora bem mais baixa que eu, então os meus treinadores começaram a dar-me instruções para eu ir para dentro. Se eu o fizesse, o um contra um ia ser relativamente fácil.
O alarido foi demais para mim... O pavilhão estava cheio, era a nossa última hipótese de ter uma boa classificação, e pelo que eu estava a entender no momento, eu podia contribuir e muito para levar essa felicidade ao meu país.
Deu-me uma branca. Eu estava apática, com medo, e sempre que me passavam a bola para dentro, eu lançava a afastar-me do cesto.
A jogadora que me estava a defender, mesmo sendo mais baixa que eu, mexia-se super rápido e estava a intimidar-me.
Sabem aqueles cães de plástico que se dava no Natal, que abanavam freneticamente, onde o objetivo era tirar as pulgas coloridas com uma pinça? Ela mexia-se assim! Era chata! Eu não estava mesmo a conseguir!
Lembro-me como se fosse hoje, de falhar, falhar e falhar.... E a um dado momento do jogo, a Nádia Palongo, que era a capitã na altura, aproximou-se de mim, agarrou-me a cabeça e começou a gritar comigo:
"O que é que estás a fazer? A tua cabeça está onde? Precisamos de ti fogo! Concentra-te! Tas com medo de quê? Ela não tem hipóteses contigo! Vamos ganhar isto!"
Se isto fosse um filme, esse seria o momento em que a música motivacional começaria a tocar, veria-se nos meus olhos o "Eye of the Tiger", e eu começaria a marcar pontos, marcando inclusive o ponto final no último segundo!
Não foi isso que aconteceu... A Palongo bem que tentou, mas eu era uma miúda assustada naquele momento. Perdemos por 4 pontos. Não passámos à fase seguinte...
Quando vi a gravação do jogo, já depois de acabar a competição toda, senti-me ridícula. Finalmente entendi o que me estavam a dizer o jogo todo.
Engraçado... Se na altura tivesse acesso ao Treino Mental, mesmo que ela fosse maior que eu, de certeza que teria conseguido uma forma de ajudar a equipa.
Mas quando os nossos medos nos bloqueiam, até uma formiga nos impede de dar um passo na direção dos nossos sonhos.
É como se costuma dizer, para quem tem medo de voar, as asas são um peso.
Eu tive medo de assumir... A bola tornava-se um peso na minha mão, parecia uma batata quente.
A partir daquele europeu, nunca mais joguei com medo. Podia ser chamada de convencida, de individualista, que passava pouco a bola, mas era uma jogadora com cada vez mais atitude.
O medo de voltar a ser ridícula, como naquele jogo contra Israel, tornou-se maior do que qualquer medo de falhar.
E com o tempo, a vontade de fazer a diferença pela minha equipa, engoliu todo e qualquer medo.
Senti-me muitas vezes nervosa, ansiosa, e obviamente tive momentos de menos confiança. Mas apaixonei-me pelo processo de superar tudo isso. De superar-me a mim mesma.
Todos os momentos negativos servem para nos construir como pessoas, se a nossa mente estiver propícia ao positivismo.
Senão, o mais provável, é que em vez de aprenderes e te construires, te deixes pouco a pouco, destruir.
Depende de ti.