RESULTADOS
A maior parte do tempo que estive na Madeira, o meu treinador foi o Juca. Atualmente ele treina a Liga Masculina do CAB, mas no meu segundo ano lá, ele assumiu, e muito bem, a Liga Feminina.
Para mim era super divertido treinar com ele. Nos jogos improvisávamos imensa coisa, obviamente tudo treinado, principalmente na defesa.
Quando marcávamos ponto, já estávamos treinadas para olhar para o Juca no banco, e ele apenas com as mãos através de símbolos dizia-nos como iríamos defender a seguir. Enquanto corríamos para a defesa, ajustávamo-nos às ordens do treinador.
Então não havia uma regra de defender homem-homem depois de marcar, ou defender meio-campo depois de perder a bola, ou zona depois de lance livre... Havia comunicação com o Juca.
Ele dava muito espaço para a nossa criatividade, e isso motivava-me imenso.
No primeiro ano que estivemos com ele, no início da época tínhamos uma equipa tão forte, que seria uma questão de tempo ganhar o campeonato.
Ganhamos a Taça da Liga, a Super Taça, e não perdemos nenhum jogo a nível nacional, até ao Natal.
Melhor ainda, estava finamente a cumprir um sonho de jogar na posição 3 (extremo) a tempo inteiro. Que eu simplesmente amava!
Trabalhei tanto para jogar a 3, para ser lançadora, para ser mais rápida, melhor defensora.. finalmente estava ali.
Mas nada é tão fácil assim né? Quando volto à Madeira, depois dos estágios da seleção no Natal, a equipa levou um balde de água fria.
A Fatima Silva, que era a nossa base de cinco inicial e capitã, e as duas estrangeiras que jogavam na posição 4 e 5 (postes super fortes), tinham ido embora.
Eu não disse que a equipa era boa? Tão boa que mais de metade do nosso 5 inicial foi convidado para ir para equipas melhores.
A Fatima foi para França, graças a um jogão que fez contra uma equipa nas competições europeias. E as estrangeiras, se não me engano, foram para Espanha.
O primeiro treino depois do Natal foi mesmo triste... estávamos meias "vazias". Mas no desporto estas coisas acontecem, e já temos que estar mentalmente preparados para mudanças, desafios, imprevistos e abrir mão de certos sonhos.
Como o meu sonho de jogar a extremo...
O Juca aproxima-se na hora do estiramentos, e começa a falar comigo baixinho: "Nádia, sabes que ficámos sem as estrangeiras, estamos sem postes, é possível que tenhas que ir jogar para dentro..."
Acho que nem o deixei acabar de falar: "O que for preciso Juca!.."
Ele não disse mais nada, abanou a cabeça em sinal de agradecimento e foi concentrar-se para o treino.
Depois ele elogiou a minha atitude à frente da equipa... por ter sido tão automática a altruísta. Mas sinceramente para mim nem havia outra resposta possível...
Há treinadores a quem não temos dificuldade em dizer que sim. Mas independentemente de gostarmos dos nossos treinadores ou não, o nosso SIM tem que estar sempre pronto em prol da equipa, ainda que isso aparentemente nos afaste dos nossos sonhos.
Chegamos à segunda ronda dos play-offs, entretanto vieram outras estrangeiras para jogar dentro, e eu ia trocando de posição de acordo com a necessidade da equipa.
Fizemos uma época em termos de resultados, abaixo do esperado. Mas em termos de união, entre-ajuda, crescimento pessoal, emoções, recordações, e jogos ganhos sem esperar, isso foi muito acima do normal.
Na verdade os nossos resultados dependem de como definimos a palavra "Resultados" nas nossas vidas.
Secalhar então enganei-me... Em termos de resultados, afinal foi espetacular.