TESTANDO LIMITES
Houve uma pessoa em particular que me chamou muitas vezes à atenção, que me corrigia, que sempre tinha algo a dizer... A Fátima Freitas.
Aquilo fazia-me confusão e eu comecei a evitar falar com ela. Parecia que eu estava sempre errada. Era durante o treino, era nas viagens, era depois dos jogos...
Porque é que me incomodava? Não sei... Quem é que gosta de ser chamado à atenção? Quem gosta de ter alguém a dizer que o que fizeste não foi suficiente?
Houve uma vez que estávamos para começar um treino da seleção, antes do treinador chamar ao centro e começar o aquecimento, e estavam umas 8 jogadoras de um lado a fazer uma brincadeira qualquer, e outras 4 a treinar a técnica de lançamento.
Eu estava entre as 8, e ela entre as 4.
Ela foi buscar-me pelo braço e disse: "Se queres ser jogadora, procura sempre estar ao pé de quem mais trabalha!"
Eu fui.. Contrariada, mas fui.
É engraçado porque comecei a época a tentar evitar cruzar-me com ela, e terminei a época já quase sem poder viver sem ela.
Porquê?
Porque este tipo de atitude que a Faty tinha, já não se vê muito hoje.
As pessoas até têm capacidade de liderança, e compreendem a importância do trabalho em equipa, mas não têm coragem de assumir essa posição. Preferem sempre agradar e manter a harmonia.
As equipas hoje têm membros que não confiam uns nos outros, o que faz com que alguém pense algo, mas não tenha coragem de o dizer (pelo menos não diretamente à pessoa em questão).
Isso só nos impede de crescer! De melhorar! De nos aperfeiçoarmos! Como equipa, como atletas e como pessoas!
As jogadoras entre si já não falam. Só dizem um "Bora!" ou "Vamos lá!", mas quando se fala sobre alguma opinião sobre o seu desempenho, quem falar já é visto como arrogante.
Tu tens responsabilidade como companheira de equipa de FALAR com a tua colega, se vês que há algo que ela possa melhorar!
E mais! Tens também a responsabilidade como companheira de equipa de OUVIR a tua colega, se ela tem algo a dizer-te, que te ajude a crescer!
Quando conseguimos passar por cima do nosso ego, das nossas inseguranças, e do nosso orgulho (que foi o que fiz), vemos a preciosidade que é ter colegas que esperam mais de nós.
A Faty esperava mais de mim. No fundo tínhamos o mesmo objetivo, só que a minha imaturidade não me deixava ver isso.
Vamos falar mais com quem nos rodeia, de uma forma positiva e no tom adequado.
Vamos também ouvir mais quem nos rodeia, com o intuito de entender, não com o intuito de argumentar.
Não sei exatamente dar-vos um ranking, mas a Fátima Freitas está no meu Top 3 de jogadoras que mais respeito tive, e ainda tenho até hoje.
Isto porque, não creio que seja possível, causar impacto na vida de alguém a quem queremos sempre agradar. É testando os limites do outro que fazemos a diferença na vida dele.