UM FOCO, DOIS FOCOS, TRÊS FOCOS...
Quando eu era junior, tínhamos todas as potências do basquete português daquela idade, as melhores jogadoras do país... mas havia rivalidade.
No final do treino perguntei a uma colega de equipa no que estava a pensar... Ela disse: "Pah, perdi imensas bolas hoje..." Decidi perguntar a outra: "Só levo na cabeça, devo estar a fazer tudo mal..." E a outra só por diversão: "Não meto uma bola." E só mais uma para fechar:" Estou com medo de que não me metam jogar."
Resumindo... Uma está lá, outra além, outra ainda mais longe... Pergunto-me: Quando estaremos todas a pensar no mesmo?
No último dia do campeonato, na final four nacional, se perdêssemos ficávamos em quarto lugar, se ganhássemos ficávamos em primeiro. Fomos a prolongamento, um jogo espetacular. Mas cada uma das "potências" só pensava em si, o os pais das "potências", não queriam saber o que era preciso para a equipa ganhar, só queriam que as filhas jogassem. Mas não podem jogar 12 ao mesmo tempo...
A dada altura, numa bola fora, naquele meio segundo em que o jogo está parado, olho à volta... Pavilhão cheio! A bancada acima do banco da equipa adversária tinha uma claque incansável, e tinha um dos adjuntos com fones a comunicar com o adjunto do banco.
Do nosso lado, gente sentada a ver o jogo como se fosse cinema, atletas no banco chateadas por não jogar, em vez de puxar pelas que estavam dentro do campo, só o meu treinador é que estava virado para o objetivo de ganhar.
Quando no final perdemos o jogo, perdi alguma da minha inocência, quando ouvi uma das minhas colegas de equipa a dizer que era bem feito para o meu treinador termos perdido, porque elas não tinha jogado.
Quando uma equipa tem um determinado potencial, mas ainda não conseguiu provar em factos que realmente o tem, basta fazer a seguinte pergunta a cada um dos que fazem parte do grupo: "Qual tem sido a tua principal preocupação?"
Apesar de eu não gostar muito da palavra "preocupação", se ela existe é porque alguma utilidade tem, e acredito que este seja um dos casos.
Quando fazemos esta pergunta o que acontece é que um diz que está preocupado com uma coisa, outro com outra, e outro com outra. Ou seja, existem tantos focos como pessoas. Mas a palavra foco, por si só, já determina que seja apenas uma coisa. Como podemos ter equipa com 50 focos diferentes?
É aí que eu deixo de acreditar no talento, no jeito, na altura, na velocidade, na força física... Tudo isto desaparece quando o grupo não está unido no mesmo foco!
Mas quando no grupo todos se "esquecem" de si mesmos e o foco é só um, a equipa e o objetivo coletivo, aparece talento que não existia, velocidade que não havia, altura que não se tinha, e resultados que não se esperava.
Para chegar a este ponto é necessária muita superação pessoal, mas será que não vale a pena a recompensa?
Deixo a resposta ao critério desta foto da seleção nacional de sub-20 femininos, tirada na semana passada, no momento em que conquistaram a manutenção na Divisão A.
Já agora, o foco delas, era só este... A equipa!
Até para a semana